sexta-feira, janeiro 30, 2009

A Parábola - Parte 1


Tem dias em nossa vida que o problema maior do mundo parece coisa pequena comparado ao que sentimos. Estranho não é? Mesmo bêbado costumo aprender muitas coisas. Vai vendo!


Hoje estava bebidamente triste e me acabei no glamoroso Recanto do índio, onde uma Brahma gelada sempre é a maior parceira. Chorando o leite derramado um indivíduo sempre percebe tal inquietação, e como num piscar de olhos começa a balançar beiço, demonstrando uma infinita lábia e trejeitos para contador de histórias.


Este sujeito, um tanto simpático, após contar uma triste e feliz passagem de sua vida onde tinha acabado de recuperar a visão, relata ansioso uma pequena parábola, que, segundo ele mesmo, foi passada por um andarilho, no meio-fio de um lugar qualquer.


Agora lhes conto, é claro, em minha versão, que é bem mais divertida e muito menos cristã.


Dizia ele que um pequeno lavrador tinha acabado de se casar e disse a sua humilde esposa após a noite de núpcias: - Vou-me embora por 20 anos e quero que me espere, pois voltarei rico para construir nossa felicidade.


A moça, Amélia nesta época, concordou, e viu o marido partir. Este, corno esperançoso, foi para uma fazenda a léguas de distância e após conseguir emprego disse ao seu patrão: - Doutor, não quero que me pague agora. Prometi a minha amada riqueza. Guarde tudo que me deve e me dê daqui a vinte anos. O patrão que não era bobo nem nada acabou concordando. Otário nem imaginava os juros que poderia ter conseguido.


Passados os vinte anos o humilde e trouxa empregado foi até seu patrão reivindicar o honorário. O doutor prontamente fez um banquete e finalizada tal festa disse ao homem: Posso lhe dar agora tudo que lhe devo, ou três sábios conselhos, segundo Paulo Coelho. O que você escolhe?


Não tendo nada a perder, além da esposa que já devia estar com outro, e 20 anos de salário o pobre mancebo escolhe os conselhos, é claro. E eram eles:

1- Siga sempre o seu caminho

2- Não seja curioso

3- Não aja de modo algum conduzido pela raiva


O corno, satisfeito com tais conselhos foi seguindo viagem, e antes de partir recebeu ainda dois pães de seu miserável e sovina patrão e este lhe disse: - Um dos pães é para você matar a fome e o outro é exclusivamente para dividir com sua família.


O homem foi caminhando para casa, em busca da tal felicidade e sempre se lembrando dos conselhos do patrão. Com toda certeza CUT, CLT e CTB não existiam nesta época.


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Pra não ficar muito cansativo continuo a saga segunda-feira ok?

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Bom fim de semana!!

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Amizade


- Ai, amiga!

-O que?

-Tenho que te contar de ontem...

-Nossa amiga. Que cara. Conta logo!

-Fui um fracasso! Ele não gostou! Não sei se tava demais ou tava de menos. Se apertei ou deixei de apertar. Será que foi a depilação?

-Mas por que você está dizendo isso? Não chore!

-Ele parou no meio, amiga... Sentou na cama e não quis mais... Nada. Nem carinhos. O que será que eu fiz de errado?

-No mínino se relacionou com um broxa! Acorda né! O cara num dá no couro e a culpa é sua?

-Frustração, sei lá. Ele inventou um monte de desculpas esfarrapadas, mas sinto que foi culpa minha. O que eu faço?

-Termina o seu sorvete, se arruma e vamos pro rock, que é o melhor que ta tendo! Homem de verdade tá cheio por ai!

-Então tá! Se você diz...

-E se quiser chorar novamente, fique a vontade! Meu ombro tá sempre aqui!

-Brigada viu!

-Disponha amiga! Estamos aqui para isso!


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-Cara!

-Que foi?

-Você é meu amigo? De verdade?

-Claro velho! O que pega?

-Velho... Ontem... Eu...

-O que foi homem de Deus! Diz logo!

-Eu broxei!! BROXEI! Você entende isso? Uma broxada clássica! Não deu... Sentei ao pé da cama.. Não sabia o que fazer...

-Não chore meu caro.

-Isso acontece com todos?

-Bom... É... Não que eu saiba... Mas... Creio que não é o fim do mundo.

-Bola pra frente né?!

-E cabeça erguida! Literalmente!

-Ainda faz piada? Palhaço!

-Perco o amigo, mas não a piada. Mas diz ai, e a mulher?

-Poxa! Era a mulher dos meus sonhos. Não sei o que aconteceu.

-E você deu alguma desculpa?

-Falei de problemas no serviço, stress, dor de cabeça, crise mundial, globalização, conflito no oriente médio. Mas acho que ela não acreditou. E agora?

-Agora? Ela deve contar pra todas as amigas né. Você ta fudido. Não vai comer mais ninguém nessa região. Já pensou no celibato?

-Não dá pra conversar sério com você!

-Tomemos um porre e você esquece isso. Amanhã já tá pronto pra outra!

-Já é!

-E se chorar de novo eu bato na sua cara.

-Valeu velho!

-Sem viadagem! Estamos aqui para isso!


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quinta-feira, janeiro 22, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 6


84 dias e meio sem ligar, sem dar sinal de que vive, ainda. Se estiver morto, não receberá enterro digno. O telefone toca. Se estiver vivo, acho que é ele. Meu irmão, Saulo Quecoisa, canalha, pai de três crianças, filho do também Saulo Quecoisa, meu padrasto durante algumas horas, dia em que fez sua única visita ao meu irmão, em janeiro de 1983, ao que consta.


Terça, 19h17min


Eu atendo o telefone. Ele diz:

_ Alô.

_ Alô.

_ É você?

_ Sou eu. E você só pode ser você.

_ Sou, claro.

_ Quanto tempo, mano!

_ Como está mãezoca?

_ Com uma saúde que dá gosto.

_ A tia e o tio como estão?

_ O tio eu não sei. Saiu pra comprar um maço e não há quem o encontre. Uma novela que só... A tia está mal por causa do tio.

_ Nossa. O tio é doido.

_ O tio sempre foi cheio dos clichês. – justifico ou algo assim.

_ E a moçada, como anda?

_ Ah, eles andam indo... e vindo... Graças a Deus, mais vindo do que indo.

_ Esses marginais... Cuide-se aí, Sujeito.

_ Sou mil vezes o mal acompanhado, do que o só; ó, bem melhor!

_ É... eu substituí as drogas pelas crianças.

_ Fez bem. Como estão as pestes?

_ Estão produzindo catarros verdes. E amarelos. Às vezes, baunilha.

_ Quando você fez a primeira besteira, eu falei: não faça mais besteiras.

_ São só crianças.

_ Sei. E o meu afilhado Sujeito Menor?

_ Apelidaram ele na escola. Só chamam o pivete de Semjeito. Ele está chateado, coitado. Diz que a culpa é minha, que dei o nome.

_ Dê a ele um trago de Vodka. Para o garoto esquecer um pouco dos problemas.

_ Ele só tem oito anos.

_ Antes tarde do que cedo; antes cedo do que nunca.

_ Sei não.

_ Os delinqüentes não estão de férias da escola?

_ Acho que com esta reforma ortográfica você tem que pronunciar delinquente sem trema.

_ Será? Não!, acho que só muda a grafia. Eu nem sabia que sabia pronunciar a trema.

_ Ah, que-se-foda. O que aconteceu foi que a escola dos meninos entrou de greve. Depois de uns dias, parte dos professores anunciou uma greve da greve e as aulas, em parte, voltaram. Só que, logo, deliberaram por uma greve da greve de greve. Entendeu?

_ Claro. Tem um bando de grevistas malucos impedindo a alfabetização dos meus sobrinhos.

_ É isso.

_ Que perda de tempo, lutar por bons salários.

_ Pra fudê-geral, decidiram repor as aulas em janeiro. Justo agora que íamos com um grupo de ciganos pra Guarapari.

_ Programão, hein.

_ Cada ciganinha, você tem que ver... Prometi levar cada uma delas ao balneário de Piúma.

_ Quecoisa.

_ Que foi?, se estou no inferno, abraço o Zebu.

_ Você sabe do que fala.

_ Só falo do que sei.

_ Se abraço o Coisa-ruim, é que percebo: “ó, o inferno”. Quando isso acontece é hora de ir pra casa. Dormir um pouco.

_ Você nunca agüentou me acompanhar, Sujeito fraco.

_ Diga aguentou sem trema.

_ A-guen-tou. Vou me mudar.

_ De novo?

_ As escolas públicas daqui são muito ruins. Vou procurar outro canto.

_ Sorte!

_ Preciso desligar. Interurbano é mei-foda. Deixe um abraço pra mãezoca, um salve pra moçada, meus pêsames pra tia.

_ Pode deixar que eu deixo.

_ Assim sendo, assim fica sido. Um abraço.

_ Abraço.


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Texto: Alexander Reis

Ilustração: Pablo Leandro


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segunda-feira, janeiro 19, 2009

Bêbados


-Mais uma?

-A saideira né?

-A saideira, com toda certeza!

-Viu o jogo ontem?

-Vi nada... mas ouvi dizer que o juiz complicou pra cacete.

-É sô... Esse juiz é ordinário! Tá envolvido até em corrupção com vereadores.

-É mesmo? Juiz nenhum presta!


-Esses vereadores também! Mais um escândalo dos grandes, ficou sabendo?

-Ouvi dizer, rapaz.

-É sô... Só tem político pilantra. Por isso que agora só voto nulo. Até a fé das pessoas eles têm usado pra ganhar voto.

- Coisa feia né! Político nenhum presta.


-E a igreja? Tanto católica quanto evangélica. Todos envolvidos também! Não acredito em mais nada do que eles dizem.

-Com certeza. Igreja nenhuma presta.


-A bíblia então? Só mentiras, rapaz!

- Nem tanto né... Mas tem uma coisa na bíblia que eu não acredito de jeito nenhum.

-O quê?

-Aquela história de Romeu e Julieta! Nunca vi tanta besteira!

- Shakespeare que o diga. Não estaria confundindo com Adão e Eva, meu caro?

-O quê?

-Deixa pra lá! Mais uma?

-A saideira?

-A saideira, com toda certeza!


-Velho, tenho que te confessar!

-Diga!

-Tô apaixonado.

-Sério? Logo você?

-Uai... posso não?

-Cuidado heim...

-Por quê?

-Mulher nenhuma presta!

-Essa presta sô! É linda! Minha mãe também presta!

-Sua mãe sim!

-Anh?

-Esquece...


-Mais uma?

-A saideira?

-A saideira, com toda certeza!

-Esta cerva veio meio quente né?

-Culpa do tempo. Do El niño, talvez.

-Euninho, uma cerveja mais gelada, por favor!

-Não sô!

-O quê?

-Deixa pra lá! Brindemos?

-À saideira!

-Mais uma?

-Com toda certeza!


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p.s. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência!

De volta das merecidas férias, prometendo aumentar o número de postagens e trazer algumas novidades!


Abraços à todos!