segunda-feira, março 30, 2009

Um conto que conto


Quando se conta um conto, imagina-se uma música. A letra, a melodia, a poesia, o princípio, o meio e o fim. Quando se conta um conto, se abstrai o sentido do real, deixando-se navegar em um mundo, em um tempo paralelo, tendo talvez o próprio firmamento como único limite.


Não sou contista, mas gostaria. Por enquanto tentarei apenas recolocar figuras de minha memória, desgastada pela boemia em excesso, mas que tanto me satisfaz.


Lembro-me muito bem de uma senhora em minha infância. Não era muito velha, mas eu era muito novo, sendo o tempo vilão fugaz da noção. Essa senhora vendia salgados e doces na praça da igreja, todos os dias, a partir das 17 horas. Coxinha, pastel, kibe, tudo acompanhado de um delicioso molho que ela mesma fazia e se orgulhava em dizer isso.


E o doce? Chamávamos de recheio. Era uma massa que vinha com pedaços de banana por dentro e com muito açúcar refinado por fora. Uma incontestável delícia que custava poucos cruzeiros na época, e logo depois, menos reais ainda.


Pelo menos uma vez por semana eu comprava algo. O recheio acabava rápido, então tínhamos que ir cedo. Eu chegava e ela dizia (sempre): Oi menino. Como você cresceu. E sua irmã? Já se casou?


Estava falando da minha prima, que demorou alguns aninhos para se casar. Eu também estava evidentemente solteiro. Para falar a verdade ainda ando largado pelo mundo, mas isso é uma outra história.


Outro fato importante a constatar é que na condição de “apenas estudante”, ficava sentado pela praça vadiando e mais de uma vez ouvi pessoas pedindo para ela a receita do tal recheio. Ela desconversava, falava da trabalheira, dos filhos e nunca entregava o ouro.


Um dia, eu já adolescente, ela não mais apareceu. O banco da praça se tornou vazio. Ouvi histórias de que estava cansada, meio doente. Depois ouvi que sua filha lhe maltratava e ela acabou sofrendo um derrame. Hoje não sei nem se continua viva.


E sabe o que mais? Nunca perguntei seu nome. Era a dona do recheio. Sempre foi. Não gosto tanto mais de doces. A cerveja acabou confundindo meu paladar. Com a idade fui tomando conhecimento das cachaças, vinhos, uísques... Mas por algum motivo hoje após o almoço me veio na mente o gosto a tanto tempo esquecido. Deve ter sido a ressaca.


Penso nesta época como um momento singular de alegria. É claro que vivi tantos outros, mas vá se saber por que alguns ficam mais vivos e reluzentes.


Acham estranho? Nem tanto. Sempre que estou perto de certas mudanças a nostalgia, principalmente destas coisas mais simples, acabam por surgir. Gosto disso.


Qual mudança? Um misto de alegria e frio na barriga. Saio do antigo bairro, da casa onde tenho proteção e vou enfrentar o "mundo". No MEU canto! Novas responsabilidades e desafios. Tudo novo!


Quero lembrar sempre deste passado. Desta dona que adoçava um pouco meus dias, sem é claro deixar de pensar no presente, onde tenho a missão de, mais uma vez, tomar o rumo desta embarcação surrada e cheia de devaneios (se isso é possível).


E, com toda certeza, outros doces virão. Agora um pouco mais amargo, esfumaçado, melancólico, sexual talvez, em ritmo de samba com certeza. Cada criança, na verdade, tem o doce que faz por merecer. Não é assim que funciona?

quinta-feira, março 26, 2009

Flerte



- E ai, rapaz! Qual que é?

- Aquela ali, de camiseta branca.

- Hum... Boa escolha heim! Gostei de ver. Tá esperando o quê?

- Calma sô. Pra que a pressa? É gostoso ficar flertando...

- Como é que é? Fala no ouvido bom, por favor.

- É sério sô. Nada melhor do que um bom flerte.

- Tá me zuando. Sorte minha que estamos numa livraria... Calma ai....

- Quê que é isso????

- Um dicionário, é óbvio... Agora vamos ver... Tá aqui: segundo o Houaiss o flerte seria uma relação amorosa mais ou menos casta, leve e inconseqüente, destituída de sentimentos profundos.


- E eu com isso?

- Faz sentido, sabe? Ocê é panaca mesmo. Relação casta? Onde já se viu? O inconseqüente eu ainda aceito, mas casta?

- Não leve ao pé da letra né. Podia ser pior. Um amor platônico imagina só.

- Eita... Dicionário de verbetes agora. Calma ai... É grego né?

- O nego chato!

- Achei! Acepção vulgar? Com toda certeza... É toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre homem e mulher.


- Vai continuar?

- Concordo mais com esse... Desta distância só amizade mesmo, e olhe lá. A castidade faz muito mais sentido.

- Palhaço. Diga o que quiser. Adoro esta relação à distância.

- Eu também adoro. Ainda mais quando estou na internet. Já entrou no red tube? Na vida real prefiro contato físico mesmo. Mas respeito suas preferências.

- Não vou mais te ouvir. Ela vai ser minha só na troca de olhares.

- É mesmo bocó? Só se ela for vesga. Por que parece que tá olhando pro outro doidim ali.

- Um troglodita. Nunca dariam certo.

- Uma pena que não são todos que pensam como você... Olha a atitude do doido chegando nela. E parece que tá gostando.


- Caçamba...

- E pela posição das mãos dele na coxa dela tá mais pra flerte viu... Sem a parte casta, é claro.

- Cala a boca! Vão sair daqui!

- Mas Platão vai ficar tão decepcionado...

- Não tanto quanto eu.

- Deixa de tragédia grega. Podia ser pior...

- Sério? Como?

- Li agora nos verbetes. Conhece Édipo?

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Gripe me matando, que compromete o fim de semana, no entanto, tem coisa legal! Clica ai!


Quero desejar também Parabéns para amiga Blogueira e do samba Cinara. O Blog dela ta aqui ao lado: Bailarina da Sandália de Prata!

Felicidades, linda!!


terça-feira, março 24, 2009

O caso da cachaça de goiaba

Final!

Você pode ir também para Parte 1 ou Parte 2!

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E seu Tonho continuou sua interessante narração:


Diz a velha máxima popular que se o Coisa-ruim fumasse, seu cigarro favorito seria Continental sem filtro, ao contrário de Deus que fuma Capri ou Charme longo, só até a metade.


Mas o certo é que o estranho rapaz acendeu seu Continental, impregnando todo o recanto, que já estava pra lá de impregnado, diga-se de passagem. Sua fumaça me fez pairar fora da realidade, onde o nome Joelma ecoava em meus pensamentos.


Os mais afoitos já devem imaginar algo bizarro envolvendo o desastre do tão famoso edifício em São Paulo ou mesmo uma coisa pior, o nascimento da horrenda vocalista da banda Calypso.


Nem uma coisa nem outra, meus caros. Joelma na verdade se tratava de uma futura paixão. Coisa que só fui descobrir um pouco depois é claro. Voltando às divagações...


O cretino terminou seu ovo, tomou a garrafa de minha mão e a abriu rapidamente. Um forte odor de goiaba e álcool lutava contra o cheiro da fumaça dos cigarros e acabou preenchendo o olfato de todos os presentes.


De modo meio que surreal ele retirou um pequeno copo do bolso do paletó e serviu a si mesmo, tomou, pigarreou e serviu outro, agora para mim. Peguei o copo e sem pensar virei, matando tudo numa golada só.


Juro, por esses olhos que a terra há de comer. Raios e trovões descontrolados começaram a cair e uma ventania nunca antes vista abriu portas e janelas, derrubando vários objetos e principalmente, assustando todos os cabrões que faltaram mijar nas próprias calças.


Meu descontrole foi total, imaginando o fim dos tempos, obviamente. Neste momento, o tempo parou e vi tudo, passado, presente e futuro, aparecendo em meus olhos. Vi a morte de papai, a doença de mamãe, meu casamento, meus filhos, meu divórcio, o bar, até muitos de vocês eu vi.


E vi, principalmente, uma mulher de cabelos encaracolados, sorriso insinuante e ares inocentes, dançando para mim. Me provocando, extenuando minhas forças. Me amando de forma sagaz. Me largando no meio do furor da paixão. Me deixando a mercê do próprio sentimento. Me afogando em lágrimas.


Poxa, eu tinha apenas 13 anos quando tudo aconteceu. E é dela que sempre me lembro. Quando voltei ao normal, estavam todos em minha volta, sem entender nada de nada. Olhavam assustados, esperando alguma reação.


Perguntei se eles tinham visto tudo aquilo. Ninguém viu coisa alguma. Falaram que eu simplesmente fiquei imobilizado e não ouvia ninguém. Perguntei sobre o cara da cachaça e nem dele eles sabiam.


Quando já estava me convencendo que tinha sido tudo um sonho olhei para o vitral de salgados e vi que faltavam dois ovos coloridos. Olhei para o balcão de cachaças, este mesmo que até hoje está aqui, e vi a garrafa prateada, me espiando como se fosse o único predestinado ao brinde.


Meu pai foi um dos poucos que acreditou em mim. Tanto é que proibiu a todos de tirarem sarro ou mesmo de beberem tal iguaria. E lá está ela, do mesmo jeito por todos esses anos.


- Mas e a tal da Joelma? Ocê conheceu tal belezura?

- Pois então. As visões me emperraram neste sentido. Tudo que vi aconteceu, mesmo quando eu me esforçava para não acreditar. Durante todos estes anos conheci três Joelmas na minha vida e as afastei antes de qualquer coisa. Fugi como o diabo da cruz. Nunca dei chance.


- Mas como assim, homi de deus...

- Não sei. Não sei mesmoooo. E é por isso que aquela garrafa é intocável. Entendeu agora?


Ao fim da pergunta Sô Tonho vira-se e sai pra a cozinha. Os demais presentes, meio boquiabertos não sabem se acreditam ou não. Mas isso pouco importa para ele.


Neste momento a porta se abre. Uma assustada moça entra como se fugisse de uma chuva inexistente. O seu perfume entorpece os homens em demasia. Ela sorri. Diz que veio de muito longe e procura um tal de Antônio, dono do bar.


Abre a bolsa e tira um cigarro, Continental sem filtro. Acende. Traga com muito charme e paciência. Diz então seu nome... Dá pra adivinhar?


Seu nome era Maria, filha do Português da padaria. Tinha ido entregar um recado de seu pai.

Joelma seria demais né?


Abraços meus caros e até a próxima.

quinta-feira, março 19, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 10


São Judas das Botas? Oxe. Não sei se a cidade tem esse nome como mera referência (“Ah, o Judas, aquele que perdeu as botas...”) ou se encontraram lá as botas do safado. Sei que Judas fez coisas mais graves que perder o calçado. Mas a questão não me atormenta. Não, de modo algum. Pé na estrada.


“Viver é muito perigoso”. Nem as veredas do sertão deviam ser mais perigosas que o caminho para São Judas das Botas. Deixe pra lá. Só estou divagando. Devagar, mas nem sempre. Pé na estrada. 3hs e 53 min. depois chego ao destino. Penso:

_ Será mesmo aqui o meu destino?

Vou ao bar. Peço um café.

_ Tem fumo de rolo aí?

_ Tem sim, senhor.


_ Me vê aí uma Tinguaça? Tem?

_ Tem sim, senhor. Mas não fica bem começar a frase com um pronome obliquo átono. Pega mal. O senhor sabe como é, cidade pequena, o senhor pode ficar mal falado, com fama de iletrado.

_ Me desculpe. Quer dizer: desculpe-me. Pensei que ia dizer que não ficava bem começar o dia tomando uma tinguaça.


Em frente ao boteco, uma pracinha. Um mendigo feioso, esquisitão, fica me observando, enquanto enrolo meu cigarro. Talvez por achar que eu enrole o mundialmente amado cigarrinho do capeta. Na verdade é só um fumo de rolo. O mendigo cruza toda a praça. Parece-me bem familiar: o andar corcunda, a cara de vagabundo. Ele se aproxima.

_ Qual é.

_ Qual é o quê?, picolé.

Ele me olha (esquisitão) e pergunta:

_ Não me reconhece?

_ Você é aquele cara do Big Brother Um?

Não era. Mas o pior foi ouvir:

_ Eu sou você amanhã.

_ Que brincadeira de mau gosto, mendingão.

_ Não é mendingo. É mendigo.

_ Me desculpe. Quer dizer, desculpe-me.

_ Dê-me um trago do seu cigarro.

_ Não se envergonha de ficar por aí pedindo cigarro para um desconhecido?

_ Quando eu tinha sua idade me envergonhava. E não somos exatamente desconhecidos. Sou você amanhã.

_ Eu não sou banguelo.

_ Não, hoje.

_ Não sou careca.

_ Ainda.

_ Não sou de todo xexelento e fedido.

_ Por enquanto.


É. O mendigo é bem esperto. Tem a resposta na ponta da língua. Provavelmente, não sou eu amanhã. Nunca fui esperto. Para não parecer injusto, resolvo fazer umas perguntas. Para, vocês sabem, averiguar. Como quem não quer nada, digo:

_ Quantas vezes repetiu o exame psicotécnico?

_ Passei na quarta tentativa. O que você quer com uma pergunta dessas?

_ Nada. De quantos colégios você foi expulso?

_ Nenhum. Eu só dormia durante a aula.

É. Se o mendigo-feioso-careca-banguelo-xexelento não sou eu, talvez nem eu mesmo seja eu, no caso de isso ser possível.


_ Bom, mendigo... Não há dúvidas que você diz a verdade. Mas o que manda? Se você sou eu, não vai chegar me extorquindo, né?

_ Não, quero só falar de umas coisas. Umas reflexões minhas.

O mendigo é mais um adepto da filosofia de boteco. Sou eu amanhã, mesmo.

_ Diga, fedorento.

_ Andei pensando. Viver é como pegar estrada. Cheia de buracos que nos fodem. Sem placas que indiquem o caminho. A vida é mal sinalizada. Fora às bifurcações. Será que pegamos a estrada certa? Não sabemos pra onde ir. Erramos o caminho. Voltamos.

_ “Pra quem está perdido, qualquer desvio é caminho”.

_ Desvio é desvio, seu animal. Daqui alguns anos você vai largar mão dos clichês.

_ Dos clichês, dos cabelos e dos dentes, pelo jeito. Fora as coisas materiais. Pelo visto, não vou ter porra nenhuma...

_ Posso continuar?

_ Tem mais?

_ Hoje em dia, só ando no acostamento. Pelo menos escapo de malucos que invadem a contramão.

_ É, fedorento, na vida e na estrada, as cagadas são fatais. “Viver é muito perigoso”.

_ Muito. Posso ter perdido a dignidade, mas não a razão.

_ Não fale assim, que até me emociono. Vem cá me dar um abraço. Vou deixar um trocado para você. Quer dizer, vou deixar um trocado para MIM, só que amanhã.


E, sorrateiramente, o fedorento me olha como quem diz “peguei mais um otário”. É. O mundo está cheio de filho da puta.


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Texto: Alexander Reis

Ilustrações: Pablo Leandro

terça-feira, março 17, 2009

O caso da cachaça de goiaba


Parte 2

Num ar sombrio e nebuloso, graças a todo o cigarro que ali faziam uso, Seu Tonho começou a narração. Todos os bêbados de plantão sentaram-se, quietos e atenciosos para ouvir, fazendo inveja em muita sala de aula de Ensino Médio e assim deu-se o início:


Era uma noite escura e fria do mês de julho de 1974. Eu, ainda muito jovem cuidando do bar para meu pai, Seu Tonhão, que neste dia em particular tinha pegado uma estranha infecção, que mais tarde fui conhecer como gonorréia.


Mamãe também ficou sabendo e a separação veio logo em seguida. O famoso desquite por que divórcio só existiu a partir de 1977.


Nesta noite, os bêbados se amontoavam no balcão, como hoje mesmo, implorando por cachaça fiado e cigarros Plazza ou Continental. No entanto, um dos bêbados não me era familiar. Sujeito bem apessoado, de uns 30 e poucos anos. Paletó um tanto gasto e um rosto triste que só vendo.


Chegou até minha pessoa e falou ao pé do ouvido: - Garoto, tá a fim de pegar uma pinga da boa?


Evidentemente não tive resposta. Os olhos dele brilhavam. Fixou atentamente para o vitral de salgados e pediu: Um desses ovos coloridos, por favor.


- Ovos coloridos? Aquilo não é um kibe?

- Kibe nada sô... É só assoprar que as moscas saem.


Devorou o ovo com extrema voracidade. Foi o único até hoje, pra falar a verdade. Fez cara de macho e tirou a garrafa prateada da bolsa dizendo:


- Esta é uma garrafa mágica, meu jovem. Quem dela bebe, terá vida eterna. Estou aqui para lhe ofertar, e em troca, quero apenas mais um ovo. Do azul, por favor.


Peguei a garrafa com muito cuidado e assombro. Apesar dos meus 13 anos acendi um cigarro e fiquei pensativo por longos segundos.


Examinei cada canto da garrafa e quando fui verificar o fundo algo estranho estava escrito. O nome de uma mulher. Mas não de uma moça qualquer.


Um nome que ainda dava calafrios a todos em nosso país neste estranho ano de 1974. Ano de uma Copa do mundo pra lá de surreal, onde a Holanda merecia ganhar e a Alemanha levou. Ano que meu Cruzeiro foi roubado do Vasco da Gama na final do Brasileiro! Outra vergonha nacional.


Mas, principalmente o ano que deixou um nome marcado, e era este nome escrito no fundo da garrafa: Joelma!


E deixa mais um pouco de suspense, que tá ficando ótimoo!!


Abraços!

quinta-feira, março 12, 2009

O caso da cachaça de goiaba


Parte 1


Muitas são as histórias que envolvem a chamada filosofia butecal, mas nenhuma é tão assustadora e apavorante como O caso da cachaça de goiaba!


Vou contar, pois ouvi este mesmo causo na época que trabalhava no pequeno bar do meu tio. Nunca havia falado isso para ninguém, mas chegou a hora, esperando esta sexta-feira 13. Mais apropriado, impossível né?


Sendo a cachaça o elixir da maioria dos mineiros, nada mais comum do que uma história envolvendo tal substância como ponto de partida. Aventuro-me nesta jornada, para ver no que dá.


Tudo começa em um pequeno buteco, de um bairro qualquer, de uma cidade específica, Belzonte, é óbvio! Estavam todos aconchegados em suas cadeiras, com seus respectivos copos, cervejas e afins, bebericando e saboreando os pequenos prazeres da vida, quando de repente, não mais que de repente chegou Seu Zé e perguntou:


- O Tonho! O Tonho! Trás uma branquinha da boa, faiz favor? Hoje é sexta-feira e quero comemorar! Meu time ganho, minha muie me largo, minha amante me chifro! Tô filiz que só vendo!


- Já vai Zé! Tem buchada de tira-gosto! Qué não? Foi Patroa que fez, agurinha...


- Hoje não Sô Tonho! Vô ficar só na guarapa mess!


Bebericando aqui e ali, Seu Zé foi ficando, como se diz? Chapado igual uma caipora doida e levantou a seguinte questão a todos que ali estavam:


- Pessoar! Alguém por obséquio pode me dizer por que nunca Seu Tonho abriu aquela maldita garrafa prateada? Deve ser a cachaça mais da boa que ta teno!


Todos assustados se entreolharam. Ninguém ousava emitir qualquer sílaba que fosse. Seu Zé foi achando aquilo estranho e indagou:


- Que miserê é esse, minha gente! Cachaça é pra tomar num é não?


Seu Tonho, um tanto atordoado chamou Sô Zé no canto e lhe revelou o maior dos segredos. Muito maior do que o ego do Diogo Maynard ou a idiotice do Arnaldo Jabor. Muito pior do que o passado da Xuxa ou as prestações das Casas Bahia!


Muito mais feio do que o Russo e o Tiririca misturados. Muito mais irritante do que um show do Calypso em conjunto com o Latino. Coisa pesada mesmoooo!!!


Mas isso fica pra próxima crônica, para não cansar vocês e aguçar a curiosidade!


Abraços!


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Fim de semana? Clica ai!

segunda-feira, março 09, 2009

Momentos



Bebericando uma Brahma gelada no Bar do índio sempre encontro assuntos surreais para escrever. É certo dizer que naquele recinto, ou melhor, Recanto, existe uma gama de loucura que transcende qualquer percepção.


Creio que, se Nietzsche tivesse passado uma madrugada sequer no índio com toda certeza Super-homem seria escrito de outra maneira e ele nunca teria perdido sua mulher para Rainer Maria Rilke. O cara tinha nome de mulher poxa! Alemão mais esquisito viu... mas também, qual que não é!


Em minha última passagem por lá, um dos bêbados de plantão foi até a mesa que eu me encontrava e disse em tom de segredo, enquanto estendia a mão: Você é músico não é?


Acostumado a ser confundido, não achei estranho, apenas disse que tocava de brincadeira, um pandeirinho de leve. Ele não me ouviu e continuou a falar: Lembro muito de você! Tocamos juntos num buteco lá na rua Tremedal! Não lembra?


Se ainda estivesse falando do Tremendão Erasmo Carlos, eu até faria um esforço para entender, o que não era o caso. Depois fui descobrir que é uma rua ali do bairro Carlos Prates!


É claro que eu não me lembrava. Nunca tinha visto aquele senhor em toda minha vida. Mas ele não se cansou: Você toca violão né? Época boa! Eu fui pro exército sabia?


Creio que neste momento ele percebeu minha cara de panguá e começou a compreender que tava literalmente falando sozinho: Mas você nem tem idade! Ta com quantos anos? Uns 43?


Poxa! Tá certo que aparento mais do que tenho, mas 43 ele magoou de verdade, mas mesmo assim continuou: Nada! Você é mais novo! 19 né? Eu nem tinha o que responder, juro!


Neste momento, meu companheiro de copo voltou do banheiro e o bêbado, após cumprimentá-lo calorosamente, nos deixou, balbuciando palavras incompreensíveis.


É por isso que não deixo de ir pra lá, e sempre que posso apresento para as pessoas. Considero importante essa proximidade, pois, verdade seja dita; de sambista, médico, bêbado e louco, todo mundo tem um pouco!


São momentos assim que fazem do buteco o melhor lugar para se conviver!


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Achei a imagem em uma piada que recebi por email, infelizmente sem fonte. Se alguem souber, agradeço!

abraços!!

quinta-feira, março 05, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 9


Terça, 01h59 min.


“Discurso!, discurso!, discurso!”

_ Não, não. Façam isso não, que eu tenho vergonha.


“Discurso!, discurso!, discurso!”

_ Hoje nem é meu aniversário. Eu só falei que era, para que ninguém faltasse.


“Vacilão!...”


Os gritos ensandecidos dos amigos me animaram até. Lembrei-me que sempre quis fazer um discurso, um dia. O bom orador: tem que ser ágil, qualquer fala que extrapole um minuto e meio é desnecessária. Esse é o tempo máximo que conseguimos nos concentrar no que o orador diz, antes de viajarmos no universo fantástico dos pensamentos depravados e libidinosos – bem mais interessantes que discursos em geral, diga-se.


“Discurso!, discurso!, discurso!”


_ Amigos, para início de conversa, certa vez procurei os Alcoólicos Anônimos pensando que encontraria uma turma mais agradável, no que peço desculpa. Vocês são os melhores amigos do mundo!

Aplausos efusivos.

_ Acreditem: para muitos, beber é um grande problema, uma doença grave que não permite piadas, pois é algo realmente triste. Sei que vocês não conseguem imaginar como ficar sóbrio pode ser bom e prazeroso; eu também não. Afinal, o mundo é realmente muito triste...

Luizinho grita: “se estou são, não estou salvo!”. Os esquisitões riem. Os caretinhas não entendem bem.

_ A terra está em transe, meus amigos, nós todos estamos. Acho que só entenderemos nossos maiores erros quando estivermos velhos e lesados, não é mesmo?

“É”, todos concordam, em coro, de um modo meio cantado, inclusive.


Um curioso – sapo, bico, entrão –, enfim, alguém, não sei quem, canta para nossa mesa: “Beber, cair e levantar!”. Uma coisa absurda.

_ Bicudo, respeito e até admiro seu estado de embriaguês! Não digo o mesmo das suas referências culturais. Essa música é horrível. Mas, em compensação, a letra é péssima. Se você caiu e ainda assim se levantou, é tolice beber mais. O melhor é tomar um Sonrisal ou um Engov, remédios que, sem dúvida, mudaram a história da humanidade... Além do que, já é tradição, desde a invenção do achocolatado: quem não aguenta deve beber apenas Toddynho.


O velho Bicho-do-mato, grande camarada, em apoio, grita com selvageria e empáfia: “Muito bem. Sapo de fora não ronca, não!”

_ Continuemos, então. Vocês sabem das pingas que tomo, mas não sabem dos tombos que levo...

“Opa, espere aí. Sabemos, sim. Já vimos você tomar muitos tombos, contando os literais e também os não literais”, diz o Banjo do Pandeiro, com absoluta sinceridade.

_ Banjo, você é o único amigo do mundo com dois instrumentos musicais no nome e por isso tem o meu respeito. A verdade é que eu vi essa frase na traseira de um caminhão antes de ontem pela manhã e não me contive em citá-la. Os discursos ficam ótimos com citações!

“Uhhh!” – logo em meu 1º discurso sou vaiado. Estranhamente, os colegas parecem não gostar tanto de citações.

_ Acalmem-se, acalmem-se. Vocês são uns malas, pela 1ª vez sinto saudades dos colegas do AA.

“Uhhh!” – logo em meu 1º discurso sou vaiado duas vezes.


_ Amigos, durante o dia nos portamos como camaleões. Para passarmos despercebidos, nos misturamos à paisagem, porque não somos bobos e queremos evitar problemas, certo?

“Ceeeeerto!”.

_ Portanto, aproveitando que vocês estão bêbados e bem mais humanos (e nem tão camaleônicos!), proponho que lembremos...

Todos me olham de forma simpática, agora. O pessoal adora um discurso propositivo.

_ Lembremos aqueles tempos em que o futuro era só esperança e sonho, não dava dor de barriga, nem aflição, quem se lembra?

“Eu lembro”. “Eu também”. “Se lembro!”.

Com exceção do Bicho-do-mato, que teve uma infância difícil, e do Luizinho, que garantiu ter fumado as recordações da época, todos lembravam.

_ É, amigos, só vocês me entendem!, oh, quanta alegria! Pena que aqueles dias jamais voltarão. O futuro é muito assustador. Brindemos ao passado!, ele parece melhor a cada dia. Acho que até melhor do que foi realmente.


Aplausos efusivos dos amigos sem lembrança. Silêncio dos demais.


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Texto: Alexander Reis

Ilustração: Pablo Leandro

segunda-feira, março 02, 2009

Auto-conhecimento


Futebol


Já vi de tudo indo ao Mineirão. Briga, arrastão, violência policial, racismo... No entanto o que ficou realmente na memória é meu pai me levando aos 7 anos de idade e eu maravilhado com a imensidão daquele gramado, a vibração da torcida e o grito de gol. Ainda vale a pena.


Bebidas


Antes eu só tomava Brahma. Ai conheci a Serra Malte e me apaixonei. Agora um amigo vende whisky barato e faz a alegria da galera. É... ser escritor de fim de semana não é nada fácil!


Livros


Normalmente leio três livros por vez. Acabo um e começo outro. Tem o livro de cabeceira, que leio antes de dormir, um livro de crônicas, mais leve pra descansar e por fim, o livro de banheiro! Por incrível que pareça é esse que sempre acabo primeiro!


Desatino


Chamaram-no de louco e ele nem notou. Gritaram e esbravejaram, e ele nada. Partiram pra agressão e ele se fez de desentendido. Na verdade era doido de pedra mesmo!


Mudanças


Tenho em mente realizar um grande sonho. Deixa a novidade mais pra frente. Garantia de coisa boa de verdade. Crescimento, amadurecimento. É isso que busco, enfim!


Samba-paixão


Normalmente vejo a vida como um samba. O toque do pandeiro é o ritmo básico que cadencia os movimentos obstinados de minha vivência. Cada nota, cada canto, cada grito um tanto contido, são ingredientes para uma bela canção.


Sou o que chamam de bom ouvinte, capaz de diferenciar e apreciar a música em sua forma plena. Vivo este samba de maneira intensa, mais do que qualquer um possa imaginar.


Não nasci íntimo, mas me tornei amante. Apaixonei-me de forma arrasadora. Coisas que não controlamos, pois nasce e renasce, por diferentes caminhos, mas sempre com a mesma energia, embalando emoções e sentidos.


O samba nada mais é do que o cotidiano em versos, o amor em sua forma pura, o ritmo que quebra e é contínuo, a poesia negra como a alma, levada ao batuque que tanto encanta. Sou do samba, sim senhor, com orgulho lhes digo, isso ninguém me tira.


É... deixo esta arte me conquistar... A certeza de uma noite de prazer é o que mais me deleito em saber. Formas estranhas de dizer aos deuses, meu pai Oxalá, minha Nossa Senhora Aparecida, mãe preta, que este samba que ouço é parte integrante de minha vida, e assim sempre será!


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Eventos Culturais? Clica ai que tem coisa boa! (orkut!!)