segunda-feira, junho 29, 2009

Gênesis



Nesta última sexta feira fiz 26 anos no dia 26 do mês 06. Nada mais cabalístico não é mesmo? No entanto, os anos passam, a vida passa, tudo passaaaa, tudo paaassaraaaaaa, eles passarão, eu, passarinho.

Vem chegando a idade e começamos, no geral, a nos preocupar mais com as coisas da vida. Por exemplo, antes mesmo de pensar em vender um dos rins para pagar as contas, passei a ler muito Foucault, nem sei bem por que, e descobri que ele nasceu em 1926 e morreu no dia 25 de junho de 1984, um ano depois do meu nascimento. Vai vendo.

Querem mais coincidências? Começaremos do começo. Nasci no dia 26 de junho de 1983, no Hospital Maternidade Promater, às 06 horas da manhã, que fica na Rua Rio Pomba, quase esquina com a Rua Vila Rica. Até aqui tudo normal, se não fosse o fato desta rua ter se tornado tão importante para mim.

Neste pequeno trajeto existe nada mais nada menos do que o Cartola Bar, um dos lugares onde mais freqüento, além é claro do Chorinho do Bolão, na parte de cima. Quantas vezes subi por este caminho embriagado, entorpecido. Sozinho ou muito bem acompanhado. Ai ai...

São várias as lembranças. E o meu berço logo ali, ao lado. Teimo em dizer, que quando nasci um anjo muito torto, desses que vivem pelas madrugadas, a cantar, esquecendo o que passou, gritou em meu ouvido: Vai nego, cambaleante, sambando, ser gauche na vida.

Fui crescendo é claro, como toda criança, quase normal. Lembro-me bem que um dos momentos mais felizes da vida foi quando ganhei meu primeiro livro. Abri e falei com mãe, com grande inocência: Eu tenho que aprender a ler hoje, de qualquer jeito. Isso ela que conta e ri. O livro era Patati patatá, um clássico. Eu tinha 06 anos.

Aprendia a ler, não naquele dia, é claro, mas fui bem precoce. Nesta idade, a precocidade em nada incomoda, muito antes pelo contrário.

Depois deste acontecimento, muita coisa de importante aconteceu. Quem sabe eu relate um dia. É só vocês esperarem pela publicação da minha auto-biografia não-autorizada.

Até o presente momento, aqui estou, morando sozinho, trabalhando muito, pegando ônibus, descendo em frente ao Promater, virando à direita, subindo a rua, entrando no Cartola, pedindo uma Brahma, acendendo um paioso, ouvindo um samba, só na alegria, uma esperança vaga que eu já encontrei.

Acabo então esta crônica, meus caros, e me vejo aqui em frente ao computador, ouvindo o grande e pouco conhecido (infelizmente) sambista Batatinha, com a música Imitação, na voz de Gilberto Gil, que nasceu que dia? Que dia? Que dia?
26 de junho é claro.

Abraços a todos e obrigado pelos votos de felicidades, pelo orkut, telefone, mensagem, sinal de fumaça e pessoalmente. Fico muito feliz, de verdade!
**********************************************

quinta-feira, junho 25, 2009

Elis para os Parabéns!

* *
* *
*
Meu aniversário!! Lindo Lindo
Semana que vem volta a escrever direitim, prometo!
abraços!

sexta-feira, junho 19, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 14

Até os menos renomados filósofos de boteco sabem: dividir o silêncio é a maior das intimidades que existe. Disparado a maior. Dividir um segredo, e digo como comparação, é fácil. Há quem entregue o maior dos seus segredos só para não ficar calado, para se ter uma idéia. Mas o que só os mais experientes sabem é que o silêncio e a sinceridade são armas que devem ser usadas com parcimônia.

Domingo, 0h, 24min.

Todos devidamente introduzidos, digo, situados e cientes de que partilhar o silêncio gera mais confiança que qualquer atestado de bons antecedentes poderia, avanço.
De antemão, peço desculpas por preservar a identidade do amigo protagonista do caso que segue, pra lá de verídico. Não posso dizer quem é. Com a privacidade dos colegas não se brinca. Na impossibilidade de identificá-lo, para facilitar as coisas, vou chamá-lo apenas de João, o mais comuns dos nomes.
_ ...
_ ...
_ ...
Registro que vivíamos aquele silêncio transcendental, óbvio que não trocávamos olhares ou risinhos. Os amigos sabem, não tenho inclinação para a coisa.
_ ...
_ ...
_ Sujeito.
_ Diga, João*.
O colega sentia-se, creio, mas não tenho certeza, tranquilamente à vontade com o silêncio. Se ele iria dizer algo, é porque realmente precisava.

_ Mas você não pode contar pra ninguém. Segredo.
_ Tranquilo. Manda.
_ Tem que prometer.
_ Está prometido.
_ É sério.
_ Promessa feita, promessa paga.
_ Beleza. Mas você jura?
_ Então não conta.
_ Está bem, vou contar.
_ Eu disse para não contar.
_ É que...
_ ...
_ É que...
_ É que o quê?
_ É que não sei como dizer.
_ Pois não diga.
_ Sou do balacobaco.
_ ...
_ ...
_ Nããão.
_ Sim.
_ Não entendi, quero dizer.
_ Como você diz mesmo?
_ Eu?
_ Quando você fala dos...
_ Dos o quê?
_ Sou biba!
_ ...
_ ...
_ Nããão.
_ Sim.
_ Nããão.
_ Sim.
_ Desde que soube que você é flamenguista, desconfiei!
_ Não brinca. É sério.
_ Só que eu desconfiava mais do Luiz. Você está falando sério mesmo?
_ Sério.
_ Aí, santa!
_ Pára.
_ Então você é da turma da fronha mordida? Do time do azulejo arranhado? Na salada de fruta, você é a pêra?
_ Fala baixo. Vou ficar no armário por enquanto.
_ Nas suas gavetas eu não mexo.
_ Sem gracinha.
_ As mulheres amam os gays, sabia?, aproveite que virou biba e cai matando.
_ Sem palhaçada. E eu não “virei”, mas descobri.
_ Quando meu irmão, canalha, descobriu que os jeitosos estavam em alta com as meninas, ele desmunhecava por canalhice.
_ Sem essa.
_ Aí começaram a insinuar que ele era do babado e ele disse: “é, para ser gay tem que ser muito macho. Estou fora”.
_ Só que eu sou gay pra valer.
_ Agora senti firmeza, Sr. Queima-rosca.
João* não responde.
_ Aposto que você é passivo, não é? Você tem cara de passivo...
_ ...
_ Desculpe, você sabe, a gangue do arco-íris tem meu respeito.
_ Não deixe mais escapar as oportunidades pra ficar calado, então.
_ O silêncio tem nuances incontáveis, meu amigo.

***********************************************************

Texto: Alexander Reis
Desenho: Pablo Leandro

quinta-feira, junho 04, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 13


Não uma nem duas vezes nos debulhamos inteiros para entender o porquê de certas coisas. É o que os mais experientes chamam de reflexão.


Já adianto que não é desta vez que vou responder às lamúrias existenciais dos colegas.

Dia desses, o amigo Banjo perguntou:

_ Será que bebo porque meu bem é triste ou meu benzinho é triste porque bebo?

_ Sei lá, respondi, creio, com uma saída das mais dignas.

Assumir ignorância na questão é opinar assim como não responder já é uma resposta, só para gastar um pouco da mais sofisticada filosofia de boteco.


O que interessa é que trago à luz fatos pra lá de verídicos, como todos os demais que conto. Relembrar instiga o entendimento, a reflexão. Sei que muitos gostariam de relatos sexuais picantes e tal, mas não posso me deixar pautar por um bando de depravados, só pela mais pura verdade.


Sábado, 23h41min. Quatorze anos antes.


Fora os bingos, frequentados por meninas que em maioria já passam dos 65 vividos, existem ainda outros lugares absolutamente perigosos para se tomar uma. Os amigos mais experientes sabem. Ah, se sabem.

Antes de chegar ao sábado à noite propriamente, devo dizer que até meus primeiros sei lá quantos anos não tive problemas com as meninas, mas com a falta. E como sempre fui o último a ser escolhido durante a formação dos times de futebol, nas peladinhas – depois dos gordinhos, inclusive –, fiquei com a autoestima baixa.

Quer dizer, com a baixaestima alta.

Quer dizer, deixe pra lá. Pois tudo mudou quando meu irmão, canalha, pai de três filhos, resolveu me levar para conhecer o paraíso, um lugar absolutamente perigoso. Para registro, na época ele não tinha tantos filhos.

Lembro que, quando cheguei, disse:


_ Mano, aqui é mesmo o paraíso. Com a ressalva única de que esse lugar paradisíaco parece um baita de um inferninho.

E foi no paraíso que encontrei uma Eva bem sacana, no sentido mais belo, chulo e sacana da palavra. Antes meu irmão, após refletir, diz:

_ Você pode escolher entre aquela ali e a Paulinha Pinel.

_ Prefiro aquela ali.

_ Aquela com uma saia vulgar que felizmente mal dá conta da sua bunda gordinha?

_ É, essa.

Daí para a minha festa de inauguração foram alguns minutos.

Eva fez como se tivesse gostado. Naquele dia um rio de águas danadas e turvas passou em minha vida e descobri que as mulheres fingem orgasmos.


_ Eva

_ Meu nome não é Eva. Sou a Siri.

_ Legal.

_ Sirigaita do Amor.

_ Vou te chamar de Eva.

_ Sua cueca tá do avesso.

_ Poxa, Eva, quero tirar você dessa vida. Acho que te amo.

_ Quantos anos tem?

_ Vou fazer 15, daqui quatro meses.

_ Hoje foi sua primeira vez? – ela desconfia, sabe-se lá como.

_ E amanhã já será a segunda. Vou vender alguma herança de família pra poder vir a semana inteira.

_ Hum. Safadinho.

_ Até te conhecer eu andava tão tristinho!

_ E desde que meu poodle morreu ninguém me tratava tão bem.

_ A coisa mais triste da vida é a morte, Eva.

_ Talvez exista um céu para os cachorros.

_ É bem improvável. Mas talvez.


Por fim, sabedor das minhas intenções e das tentações do paraíso, meu irmão, canalha, proibiu a venda de qualquer herança de família.

_ Sob pena de te quebrar todo.

_ Separe o sujeito do verbo, mas não me separe da Eva.

_ Sujeito, uma coisa leva a outra, a estupidez não leva a lugar algum. Pense.

Eis o que o safado chamava de reflexão.


******************************************


Texto: Alexander Reis

Desenho: Pablo Leandro

E, pra variar, façam o fim de semana na Agenda Cultural! (orkut)

segunda-feira, junho 01, 2009

Monólogo



Normalmente, é a parte que nos cabe deste latifúndio. Sem esquecer, é claro, da monocultura ou da famigerada escravidão.


Não entendeu? Explico: Sendo homem ou mulher, nem pobre, nem rico. Morando de aluguel em algum lugar de um bairro periférico. Subemprego, cheio de dívidas. Semanas que não come um bife descente. Apenas o PF da Dona Maria.


Nem assisti mais televisão. Economia? Política? Sem chance. Talvez o pedaço de uma novela, quando chega em casa, cansado... Um tablóide qualquer (de 25 centavos) dita suas preferências, coitado. No rádio, a estação de sempre. Com as notícias de sempre. Única notícia boa é o tempo. Este ao menos muda.


No entanto, chega o fim de semana! Ah como é bom! Happpy hour na sexta com os amigos. Acordar cedo e com disposição no sábado. Vai pro buteco mais próximo e bebe, bebe e bebe... Até o fim da tarde, quando finalmente começa a farra!


Aí tem aquele banho demorado, uma caprichada na colônia e pronto! Vamos pra caça, meu rapaz. Tem a grana da entrada num tem? Já é alguma coisa... Se pintar uma gata já sabe o que fazer, sem pressa, sem ansiedade, sem falar em dinheiro, ok? Nada mais broxante, para ambos, no caso. Seja você mesmo... Ou não...


Teve bom o pagode. Uma saideira no buteco para garantir. Prepare-se pra ressaca domingueira. Sinta-se prazeroso e sereno. Seu time joga, fique atento. E tem também que passar na casa da mãe, visitar o pai que está doente e ver aquela vizinha que um dia pensou em se casar com você. Tesãozinho hoje em dia e nem te cumprimenta mais.


Aí acabou. Por que chega a segunda. Pelo menos seu time ganhou, alegria, alegria. Uma média pra acordar e pronto. Batente lento, pensamentos pecaminosos com a moça da recepção.


Vida feliz. A parte que lhe cabe deste horrendo latifúndio. Produza mais, pra escapar da monocultura que tanto lhe apetece. Liberte-se e grite, para enfim se livrar da escravidão. Porque já é sexta feita, meu caro.


Não entendeu? Explico... Somos a sombra eterna do próprio cotidiano. Sendo homem ou mulher, pobre ou rico. Decida-se e voe. Asas foram feitas pra isso, ouviu? Nunca se esqueça, nunca se esqueça.


************************************

e sexta feira tem a volta de Alexander e Pablo com crônica e desenho novinhos em folha!

é só esperar pra ver!

abraços!