quarta-feira, julho 20, 2011

A involução da Escrita


Lembro com saudades da minha professorinha de pré-primário, me ensinando a pegar no lápis e escrever corretamente. Até hoje pego no lápis de maneira estranha, mas pelo menos aprendi a escrever. Não que tenha adiantado muito. Poderia ter aprendido outras coisas mais valorosas como cantar funk, mas nessa época as coisas não eram assim. Acabei virando professor mesmo.

Fiz esta pequena introdução para falar sobre como os jovens de hoje em dia conseguem (ou não conseguem) escrever. Leio a notícia de que o estado de Indiana nos EUA está abandonando a escrita cursiva. Aquela feita à mão sabe? Quase caí da cadeira, num primeiro momento, mas se for parar pra pensar, não estamos indo para o mesmo caminho, só não admitimos?

Vejamos... Sempre que converso com alguém sobre escrita ouço: __ Poxa, tanto tempo que não escrevo, até desaprendi a pegar na caneta.

É camarada. O trem é feio. Computadores, notebook, celulares. Você pensa e eles executam. Escrever pra que? Dá uma trabalheira danada.

Disse à minha sogra, que me mostrou a matéria de Indiana, que desse jeito estamos fadados à involução da escrita. Explico didaticamente:

1 Esqueceremos as vogais
2 Perderemos as consoantes
3 Voltaremos a escrever por símbolos ou emoticons, talvez
4 Pra escrita cuneiforme já é um passo
5 Hieróglifos básicos
6 De tacape na mão, puxando as mulheres pelos cabelos, cheguemos na arte rupestre.

É claro que estou exagerando. Acredito em melhorias, mas é sempre bom tomar cuidado.
Todo começo de ano quando estou dando aula peço para os alunos fazerem um memorial critico / reflexivo sobre seu cotidiano, de no mínimo 30 linhas. Grande parte não sai das cinco primeiras. Outros embromam, aumentam a letra, repetem frases. É quase uma guerra contra o papel, sendo que o inimigo principal é o tal do português, coitado, tão castigado.

E assim concluiremos, sem escrever, sem ler, obviamente, e talvez, desaprendendo a falar. Aos gritos, grunhidos e engasgos chegaremos ao ponto de pedir clemência a São Machado de Assis, mas temendo sempre a volta de um Paulo Coelho qualquer. Nós somos merecedores, mas nem tanto né?