Número 17
Nem whisky do Paraguai com amendoim nem bolinho de couve. Nem licor de jurubeba nem pão sovado com patê de ganso.
_ Suco de mamona?, hoje não, obrigado, estou saindo, se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí...
E que delícia é o simples, churrasquinho, cerveja, festa na floresta, o antro da fuleiragem de bom coração que é o Bar do Baiano, minha Pasárgada, meu analgésico, meu mar.
_ Baiano.
_ Sujeito, aqui está você, quanto tempo, ouvi falar que estava comendo o churrasco da concorrência, que era um traidor, crápula, bom que voltou.
_ Eu, no Gato-grill?, de jeito nenhum, os gatos de lá não são de procedência boa.
_ Então experimentou?
_ Eu precisava, até para poder falar mal.
_ Se é assim...
_ E as novidades, Baiano?
_ Bem, vou lançar um livro de auto-ajuda, “Seja o gerente de sua vida”, fazer algumas palestras, coisa fina. Às quintas vou continuar mandando o churrasquinho. Nos outros dias, carne cozida. Olhe ali, seu amigo, Messias.
_ Meu amigo?
_ Vá cumprimentá-lo, ora essa.
Opa, saindo picanha de gato argentino!
Feijoada em lata, batida coalhada, conserva de pepino, não, não. Sem também essa de Bohemia, Original, cerveja artesanal. Cerveja não é coisa de artesanato, onde já se viu, que frescura.
_ Qual é, Messias.
_ Sujeito, my friend, deixe-me contar uma profecia.
_ Claro, claro, conte inteira.
_ Diga-me com quem andas e eu lhe direi com quem andas. Diga-me quem és e eu duvidarei, nunca sabemos realmente.
_ Isso não é profecia, é um provérbio, um provérbio alternativo.
_ Maybe...
_ Seu inglês; seu inglês é meio não lembro bem o termo.
_ Sorry, que negócio é esse de meio termo?
_ Meio perturbador, lembrei; bem, também não quero podá-lo...
_ Of course.
_ Que tem arrumado Messias?
_ Arrumo meu quarto pela manhã, à tarde estou vendendo teste vocacional para pessoas maduras.
_ Vou comprar um, estou perto dos 30.
_ Meus clientes têm vocação pra otário, não precisa comprar, everything is fine.
_ Faço questão.
_ Cool.
_ Mas não vou pagar agora. Semana que vem!, semana que vem eu pago.
_ No sir.
Saindo maminha de gata prenha!
Olha o espeto de filhote ao alho!
_ Creusa.
_ Quanto tempo, Sujo.
_ O bom filho o copo entorna, você sabe.
_ Andaram dizendo que você não passa de uma traíra sem espinho, foi o que disseram.
_ E você acreditou?
_ Sei que te viram no Gato Grill.
_ E?
_ Não acreditei, pensei que tinha sumido, sumido por um desses seus pobrema de necrose.
_ Aqui minha neurose descansa.
_ Até de você por perto sentiram saudade...
_ A saudade é igual a um tumor, quando a gente a percebe, já está nos matando.
_ O quê?
_ Nada, mas e a música, que horas começa?
E não é choro nem bossa, até que cairia bem aquele balanço de New Orleans, coisa sofisticada, mas, sem frescura, no Baiano, manda o embalo do famoso pagode-mauricinho, devagar miudinho, olhe as meninas, uma beleza, chora Baiano!, um churrasquinho de primeira, somente às quintas. Nos outros dias, carne cozida.
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Texto: Alexander Reis
Ilustrações: Pablo Leandro
Nem whisky do Paraguai com amendoim nem bolinho de couve. Nem licor de jurubeba nem pão sovado com patê de ganso.
_ Suco de mamona?, hoje não, obrigado, estou saindo, se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí...
E que delícia é o simples, churrasquinho, cerveja, festa na floresta, o antro da fuleiragem de bom coração que é o Bar do Baiano, minha Pasárgada, meu analgésico, meu mar.
_ Baiano.
_ Sujeito, aqui está você, quanto tempo, ouvi falar que estava comendo o churrasco da concorrência, que era um traidor, crápula, bom que voltou.
_ Eu, no Gato-grill?, de jeito nenhum, os gatos de lá não são de procedência boa.
_ Então experimentou?
_ Eu precisava, até para poder falar mal.
_ Se é assim...
_ E as novidades, Baiano?
_ Bem, vou lançar um livro de auto-ajuda, “Seja o gerente de sua vida”, fazer algumas palestras, coisa fina. Às quintas vou continuar mandando o churrasquinho. Nos outros dias, carne cozida. Olhe ali, seu amigo, Messias.
_ Meu amigo?
_ Vá cumprimentá-lo, ora essa.
Opa, saindo picanha de gato argentino!
Feijoada em lata, batida coalhada, conserva de pepino, não, não. Sem também essa de Bohemia, Original, cerveja artesanal. Cerveja não é coisa de artesanato, onde já se viu, que frescura.
_ Qual é, Messias.
_ Sujeito, my friend, deixe-me contar uma profecia.
_ Claro, claro, conte inteira.
_ Diga-me com quem andas e eu lhe direi com quem andas. Diga-me quem és e eu duvidarei, nunca sabemos realmente.
_ Isso não é profecia, é um provérbio, um provérbio alternativo.
_ Maybe...
_ Seu inglês; seu inglês é meio não lembro bem o termo.
_ Sorry, que negócio é esse de meio termo?
_ Meio perturbador, lembrei; bem, também não quero podá-lo...
_ Of course.
_ Que tem arrumado Messias?
_ Arrumo meu quarto pela manhã, à tarde estou vendendo teste vocacional para pessoas maduras.
_ Vou comprar um, estou perto dos 30.
_ Meus clientes têm vocação pra otário, não precisa comprar, everything is fine.
_ Faço questão.
_ Cool.
_ Mas não vou pagar agora. Semana que vem!, semana que vem eu pago.
_ No sir.
Saindo maminha de gata prenha!
Olha o espeto de filhote ao alho!
_ Creusa.
_ Quanto tempo, Sujo.
_ O bom filho o copo entorna, você sabe.
_ Andaram dizendo que você não passa de uma traíra sem espinho, foi o que disseram.
_ E você acreditou?
_ Sei que te viram no Gato Grill.
_ E?
_ Não acreditei, pensei que tinha sumido, sumido por um desses seus pobrema de necrose.
_ Aqui minha neurose descansa.
_ Até de você por perto sentiram saudade...
_ A saudade é igual a um tumor, quando a gente a percebe, já está nos matando.
_ O quê?
_ Nada, mas e a música, que horas começa?
E não é choro nem bossa, até que cairia bem aquele balanço de New Orleans, coisa sofisticada, mas, sem frescura, no Baiano, manda o embalo do famoso pagode-mauricinho, devagar miudinho, olhe as meninas, uma beleza, chora Baiano!, um churrasquinho de primeira, somente às quintas. Nos outros dias, carne cozida.
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Texto: Alexander Reis
Ilustrações: Pablo Leandro
7 comentários:
Lex, Very good!
Adorei o texto, aqui não abriu o desenho...
Gato Grill foi otimo! Muito engracado!
desenho veio com atraso Luciele, pq o editor bebeu quase uma garrafa de uisque ontem... acontece...
Parabéns meninos!!
abs!
Alex, clima super alto astral, bacana (fora comparar a saudade com um tumor, claro, ehehe), mas essa de teste vocacional me acertou em cheio... e o pior que já passei dos 30.
abração!
que bom que alguem sentiu a falta do desenho!
rs...
ae biluzinho, as piadinhas estão cada vez melhores!
abraço!
Churrasquinho de gato, nobody deserves! Essa filosofia de boteco já dá um livro heim. Leitura agradável para o meu sábado. Abraços.
altos texto jovem. e viva os botecos espalhados por todos os cantos de nosso país.
So esqueceu de mencionar os kits que vendem nos botecos que é composto por uma ficha de sinuca, e um martelinho que pode ser de pinga, limãozinho, maracuja.
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