sexta-feira, novembro 14, 2008

Sinuca


-Pronto! Pode sair jogando.

-Caiu alguma? A 2! Par é minha.

-Me passa o isqueiro.

-Perdi no samba, acredita? De novo!

-Também né... esbórnia da porra.

-E num foi? Me apaixonei por aquela nêga.

-Sério? Merda... cortei demais...

-Sério velho. Mulher linda, inteligente, carinhosa pacarai.

-Porra, essa 7 sempre me faz raiva.

-E outra, parece que ela também gostou de mim. Isso sim é raro!

-Pegou telefone? Bolão heim! Andou treinando?

-Meio atoa... Jogando direto! Peguei sim... Falta coragem pra ligar.

-Coragem? Por quê?

-Acredita que esqueci o nome dela? Fui anotar no celular e percebi que não lembrava, ai fiquei com vergonha de perguntar. Dei mole.

-Ocê é burro heim! E agora? A 9 não morre de jeito nenhum no meio. Desisto dela.

-Agora vou dar o pinote né! Chamar de neguinha, lindinha, querida, até amoreco rola!

-Pediu outra cerva? Tô tomando um couro! Vou jogar com você mais não.

-Pedi sim. Ta trazendo. Deixa de onda sô. E sabe o pior? Até sonhei com a menina.

-Eita! Paixão é assim mesmo. Nunca ouviu falar que ela morre numa quarta-feira?

-Hoje é quinta, cacete.

-Entenda a lógica, amigo. Independente do dia. Você a conheceu no sábado. Fogo total. No domingo lembranças e sonhos. Segunda saudade. Terça tirando o fato de contar pros amigos, já esfriou um pouco. Quarta foi-se paixão porque quinta tem chorinho e um monte de mulher gata. Sexta já é fim de semana...

-É... faz sentido. Merda! Descaída da porra! Bola 1 é sempre sofrimento.

-Vou tentar te embebedar pra ver se ganho ao menos uma.

-Essa teoria. Gostei dela. Veio de onde?

-Uai. Creio que seja uma analogia ao carnaval né. Quarta-feira de cinzas e tal. Lembro que li um livro do Paulo Mendes Campos chamado: Os bares morrem numa quarta-feira. É uma crônica na verdade. Ele vai contando sobre bares que tiveram um auge e rapidamente fecharam, por motivos diversos, mas sempre deixando saudade. Só adaptei.

-Meio nerd, mas teve a manha. Inventa uma analogia pra sinuca sô. Encaçapando vidas, ou algo do tipo. Vai fazer sucesso.

-Não sou tão criativo. Talvez um texto baseado em Sartre.

-De Sartre você só tem o olhar meio vesgo e o relacionamento aberto. Não daria certo.

-Verdade...

-Jogar outra? Claro né. Arrumou fogo aonde?

-Coloca a ficha ai. Com o garçom. Copo ta cheio?

-Ta sim. Pena que hoje é quinta então... Brindemos a isso.

-A quê? A surra que tô levando?

-Não sô! Às paixões que passaram e as que ainda estão por vir. Saudade da neguinha...

-Ai ai... Cala boca e sai logo! Bar do Índio depois?

-Pra variar! Opa! Par é minha.


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Texto dedicado, inspirado e baseado nas várias quintas-feiras que passei ao lado de amigos tanto no chorinho do Bolão quanto na sinuca do Ponto Chique, finalizando no grande Recanto do Índio. Saudações!


Foto: adaptada por Luiz Carlos


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13 comentários:

Anônimo disse...

Recanto do Indio! Esse lugar é lendário..rsrsrsrs
Bjs
Pri

TIAGO SÂNZIO disse...

mais que lendário Pri! Dizem que nem existe, de tão surreal que é.. hehe

Anônimo disse...

pacari...cacete...palavras típicas do seu linguajar... dessa vez é vc!hihihihi
hum...sobre a questão das paixões até a quarta-feira, cv disso esses dias, lembra???Tá se inspirando na nossa cv tb????
delícia de texto!
beijo muito, mas muito grande!!!

Anônimo disse...

bebedeiras heim! e samba? nada?
bj

TIAGO SÂNZIO disse...

é lilinha! todo o texto baseado em fatos reais... rs

bjo!

Unknown disse...

Esquecer o nome da mulher: so nosso velho amigo Rafa... Pior sem anotar o telefone. Muito bacana. Bom trabalho.

Anônimo disse...

pra não dizerem que um dos anônimos não deu as caras.. tâmo ai!!

Anônimo disse...

bom demais o texto!
Parabens!

TIAGO SÂNZIO disse...

o texto é um emaranhado de informações... tem um pouco de cada um ai, podem ter certeza!

Abraços!

Anônimo disse...

conheço o bar do índio! quebradeira heim!
bom texto!

Anônimo disse...

esse programa deve ser legal, que pena que nunca fiz isso. Onde é o recanto do indio?

TIAGO SÂNZIO disse...

é um lugar fino, joão carlos! não é qualquer um que eles deixam entrar... hehe

Adelino disse...

Não senti nenhuma semelhança com a realidade cotidiana, esse negócio de sinuca, isqueiro, cerveja, chorinho. E esse tal de Índio.

Eita realidade.

Abraços Banjão, ótima crônica.