Número 2
Quinta, 21:26. Na fila.
Ôxe. Ai, ai, ai. Tiago disse, com decisão, com firmeza, que vou ter que contar meu nome lá naquele blog. Todo mundo tem um nome, agora eu também vou ter que ter. Que roubada! Cocô. Cocozão, viu. Como é que faz, como é que faço agora? Ah, mas o mundo é assim, né?, feito cerveja, tudo tem um nome, tudo tem rótulo, né não? E agora eu vou ter que ter. Mas continuo. Repare: É Antártica pra cá, Brahma pra lá; Nacionais pra cá, Importados pra lá; Tintos. Brancos.
_ Quanto é a entrada?
_ Pra você que tá panguando, 12 – disse o folgado segurança da espelunca.
_ Que panguando, mané. Só minha brisa que está mal. Deve ser conjuntivite.
_ Sei. Nome e identidade.
_ MG-98078450260387449835721749.
_ Essas identidades mais recentes estão vindo com muitos números, hein. Falta só o código de barra, patrão.
_ De fato.
_ Nome?
_ Sujeito. Ah!, mas pode me chamar de Sujo.
_ O patrão, coopera, patrão. Tô só fazendo meu trabalho. Nome completo, por favor.
_ Sujeito Indeterminado.
_ Sério?
_ É sério.
_ Desculpe, senhor. Sua mãe foi professora de português?
_ Minha avó, que Deus a tenha, pensava que a criança deve sempre, sempre!, levar o nome do pai, como um rótulo.
_ Como um carma a se carregar?
_ Isso. Aí aconteceu de minha mãe não saber o nome do meu pai nem de onde veio nem quem era. Por isso, ficou Sujeito Indeterminado.
Ele pára – coisa de 3 ou 4 segundos. Anota. Pensa.
_ Perdão, doutor. Mas se Maria, mãe do Menino, pensasse assim, com a lógica da tua mãe, Jesus Cristo se chamaria Sujeito Oculto. Foi obra do Espírito Santo...
_ Olha, é mesmo. Pelo menos não carrego um crachá escrito DIMAS.
_ Ô chefe, Dimas Aleluia, disponha.
_ Aleluia...? Diferente também, né. Um pouco extravagante.
_ Pois é. Nome de guerra. Fui zagueiro e capitão do Sábado de Aleluia. Time lendário. De história mais bela. Lá em Neves. Bezerro Manso no gol, eu, Da Cintura pra Cima, Pedro Pedinte, Paulinho Detento. No meio: Tarja Preta, Quebra-mola, Delegado, Trator Desgovernado; na frente TPM e Kleitin,O Açogueiro. No banco, Menina-moça, Marcha Lenta e o Vacas-magras. Técnico era o Professor. Saudoso.
_ Cada nome, hein, Dimas.
_ Nome não, apelido. Pra marcar.
_ Sei.
_ O TPM nós chamávamos assim porque o nego é mais nervoso que mulher nos dias. Mas nome é uma coisa doida...
_ Andei pensando nisso.
_ Ele encarnou tanto o apelido de TPM que, depois que escorria um sangue, até se acalmava. Sangue do adversário, no mais natural.
_ Nossa, incrível.
_ Com essa coisa de nome é assim: não se brinca.
_ E comigo? Pois conto. Às vezes sinto que não existo, um vazio. Como se eu não tivesse vontade própria. Como se eu fosse um fantoche. Um personagem, inventado pela mente doentia e sem escrúpulos de algum esquisitão. Acho que tem a ver com o carma. O carma da indeterminação... fruto desse nome estranho que recebi! Sinistro.
_ Meu time, Sábado de Aleluia, que era sinistro, na real. O Menina-moça não tinha passagem, não tinha antecedente. Nem na FEBEM nem nada. O resto, só vagabundo!
_ Um time de Ribeirão das Neves. Esperar o quê, meu filho?
_ Ô patrão, por favor, não rotule. Um Sujeito estudado dizendo uma coisa dessas.
_ Estudado não. Indeterminado. E o senhor, bom saber. Pelo jeito, vão ter que contratar um segurança pra vigiar o segurança...
_ Patrão, olha o preconceito. Não devo mais nada à lei, patrão.
_ Tem razão. Desculpe, Dimas, O Bandido. Além do que, compartilho da tua visão.
_ A que o nome pode invadir a alma do Sujeito? Ou sobre essa coisa de rotular?
_ As duas. Mas não vá achando que é bonito ser feio. Percebi o trocadilho com meu nome, babaca.
_ Ô chefe. Foi mal, chefe. Pode adentrar a casa, que a fila tá grande.
_ Você chama espelunca de casa?
_ Se o senhor chama esse farol baixo, essa cara de panguá, de conjuntivite...
_ Boa, Dimas. Bem pensado.
_ Já é. Próximo! Boa noite princesa, nome e identidade, por favor.
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17 comentários:
tenho orgulho demais desses meus amigos viu... hehe
Alô amigos de apelidos bizarros: Guilherme Borboleta (que ontem fez um show que valeu o caríssimo ingresso), Marcelito Chapoca, Bicho do mato, Bebel Bündchen (antiga Nhonho), são tantos... Essa foi pra vocês!
como era de se esperar estão pipocando comentários!!!!!!
rs...
Banjão valeu mais essa oportunidade...
Seu bolg tá de parabéns!!
Nussa, vc acabou com Bebel falando de Neves! huahuauhaa
E como sempre, uma delícia de história!!!!!
Tem gente que nasceu pra conversa de boteco!!!!
Beijos e sorte, sempre!
Ha minino, dizer q tu é bom ta virando redundância! E o desenho não é de um “suposto cartunista”, é de um cartunista mermo!
Se cuide aih.
Ps. Que diabo é isso de ribeirão das neveS?
Neves é uma cidade que tem perto de BH.
Pessoalmente, acho um dos lugares mais bonitos aqui em Minas (pra não dizer do mundo inteiro). Mas alguns maldosos dizem que é uma cidade fudida, fedida, violenta e cabulosa.
Neves é uma cidade imaginária onde existe uma penitenciária tridimensional. Praticamente um mundo paralelo à BH! Adoro!!
Ah biluzinho, mandou bem.
É kbção, isso só pode ser coisa tua, só pode. Vou te mostrar o biluzinho. É a farra dos anônimos!
bacana!
Saludos!
http://gambetas.blogspot.com
Muito bom...
o cartunista tem futuro...rsrs
Bjim pra ti, Sujeito Indeterminado...
Essa do sujeito oculto foi otima. Parabens leke.
Além disso, Alexander tem um que também não perde pra nenhuma! Max Fivelinha!
excelente comentário Gui...
ele é a cara!
Excelente texto, como sempre e sempre. Só duas observações: nhonho é essa mãe que pariu sem saber sobre o rastro do pai e em Neves não tem time de tal alcunha rs
Beijossssssss (agora estou em dia,não perco mais nenhum)
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