sexta-feira, novembro 21, 2008

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco

Número 3

Não há universo fantástico que sobreviva sem a presença feminina, suplicam-me os colegas. Nem em mesa de boteco conto mentira, por isso o aguardo. A demora. A seca. Mas os colegas diziam: “Pode ser feia. De todo modo, ninguém irá vê-la”.


Sexta, 21h54min.


Opa. Aquela ali ó, com cara de ressaca, até que é bonitinha. Um olhar perdido e um franzido de testa do mais belo. É, gostei. Se a espelunca aceitar cartão, pago uma bebida pra moça.

_ Garçom, a espelunca aceita cartão?

_ Aceitamos – disse, como se fosse ele quem tivesse decidido aceitar cartão.

_ Vocês dividem em 2x?

_ Não sei. Acho que não.


_ Oi, princesa.

_ Oi. Sem essa de princesa.

_ Só não lhe pago uma bebida porque... os vinhos desta espelunca não são de qualidade.

_ Qual vinho você gosta?

_ Ah, já tomei dos tintos, dos brancos, dos nulos e indecisos. Mas não tem um assim, específico, que eu prefira.

_ Sei – diz, claramente constrangida com o comentário. Pergunta meu nome.

_ Sujeito. Ah!, mas pode me chamar de Sujo. E o seu?

_ Norma, mas pode me chamar de Morna; apelido de infância!

_ O meu também.

_ Coincidência. Não sei se é melhor ou pior que o nome!

_ É. Também não sei se é melhor ou pior que o nome.

Sem razão que eu perceba, ela sorri. Pergunta o que faço.

_ Sou trabalhador.

_ Que jeito estranho de se responder.

_ Não gosto da velha divisão, típica, né: Mega-empresários, engenheiros e advogados de um lado. Bloguistas, jornalistas, taxistas e frentistas do outro.

_ O certo é blogueiro.

_ Prefiro bloguista.

_ E eu não gosto daquela outra divisão: Patrões e empregados de um lado. Desempregados do outro – ela diz, depois ri.

_ Ah, essa daí também detesto. Além do que, o empregado de hoje é o desempregado de amanhã.

_ E o desempregado de amanhã é o assaltante de depois de amanhã!

Faço que concordo, pra agradar. E digo, no mais sincero: _ Só o patrão que não muda.

Morna ignora o comentário.

_ Mas no momento, o que tem feito?

_ Estou no ramo da filosofia de boteco.

_ Interessante. Nunca tinha ouvido falar...

_ É uma área que ainda está se desenvolvendo.

_ Estou impressionada.

_ Faço pesquisa, teoria, essas coisas.

_ Hun, que chique! Conte aí uma de suas teorias. – parece desacreditar.

_ Assim, de improviso?

_ Ah!, conta! Uma bonita, sobre coincidências, sobre o amor... sei lá.

(Jamais alimente rompantes de romantismo de mulher, dizia meu irmão – hoje, pai de três filhos).

_ Os relacionamentos começam porque nos deixamos impressionar facilmente. E terminam porque não deveriam ter começado.

_ Que idéia maluca. De onde tirou isso?

_ Dedução. Observação. Intuição.

_ Pensei que fosse algo mais científico.

_ Espertinha. Por que começam, então?

_ Porque cada um vê com os olhos que tem.

_ Não entendi nada. Sinal que você é inteligente.

Eu pergunto se os olhos dela são completamente contra a feiúra. Ela sorri e diz que não.


_ Nossa. Noite produtiva.

_ Sei o que chama de produtiva. Já vou avisando que não dou de primeira.

_ Quis dizer que fiquei impressionado com você... Posso contar sobre nossa conversa para uns amigos, em um blog?

_ Nem pensar.


_ Quero que prometa que não vai contar. Ainda mais em um blog.

_ Tá bem, eu prometo.


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Texto: Alexander Reis
Ilustração: Pablo Leandro

11 comentários:

TIAGO SÂNZIO disse...

Com um pequeno atraso, mas aí está! Peguei um trânsito infernal, hehe.


Abraços!

Anônimo disse...

O pessoal tá insano querendo o texto do Lek, pela demanda acho que deveria passar a ser semanal. rsrsrs


Belo texto, cuidado pro Sujo não virar o Lek (ou vasco e versa)

Anônimo disse...

Alex, agora sim esta ai. achei muito bom.
Flávio

Unknown disse...

Literalmente o "Sujo" falando do "mal lavado". É... tem um monte de coisas que começam sendo que não deveriam começar...O que não é o caso dessa filosofia de buteco que eu estou adorando!

Beijosss da canalha!

Bebel

Venúncia disse...

Filosofia de buteco bastante pessimista, pelo mesnos em relação ao amor! O ritmo do texto é muito bom.
abraços

Anônimo disse...

kaakakaka! boa! sera q esse q eh o segredo para o alex ser o pegador? hehehe

Anônimo disse...

Venuncia, esse pessimismo todo é falta de mulher. Vamos arrumar uma namorada para o Leque! rs ... rs

Anônimo disse...

e não há como sobreviver sem os homens também...
hum... sei não, sempre acho válido relacionamentos passados, fica um tanto de coisa boa e gostosa q a gente lembra depois, msm estando com uma pessoa no presente e sendo completamente apaixonada por ela, coisa saudavel msm...eles terminam pq simplesmente vc precisava de algo q a pessoa n podia dar naquele momento, ou o contrario, vc nao precisava tanto daquilo que a pessoa estava te dando, sei la...
muito bom o texto!!!
beijocasss!

Anônimo disse...

esse negócio de relacionamento acho complexo, terminar, começar, etc...
deveria haver algum tipo de contrato ou coisa parecida pra depois num vim com essa de vc num era assim vc num era assado hauhauhau....

TIAGO SÂNZIO disse...

eu sou um exemplo de relacionamento duradouro!! nem vou opinar viu Lilinha.. hehe

Anônimo disse...

Ah, Lilian, mas eu concordo contigo inteiramente! O Sujo tem umas posições muito radicais.