Capítulo 1
Quando são devaneios etílicos
Neste primeiro capítulo o certo seria introduzir ao leitor os motivos que me levam a produzir sobre Chico Buarque. Rasgaria seda e cairia no lugar comum, o que não é meu propósito, valendo lembrar que se eu tivesse esta resposta seria um jornalista e não escritor de fim de semana.
Escolhi percorrer um caminho menos objetivo, que perpassa pontos fantasiosos e experiências surreais, não necessariamente nesta ordem. Certo dizer que, separar o real do imaginário não será minha intenção, muito antes pelo contrário. Espero não ser incompreendido ou, no pior das hipóteses, processado. Entendam como uma mera homenagem...
E caminho na praia, olhando ao longe o oceano, entre Copacabana e Ipanema, sem destino, madrugada adentro. Mineiro avesso ao mar, no Rio prefiro a noite, o samba, os mistérios da madrugada interminável.
Estou meio que embriagado e sozinho. Isso se passou há uns 5 anos atrás, creio eu, e nestes desatinos inconcebíveis, pairando a pé em Copa, decido chegar até a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde imagino encontrar com Chico, talvez saindo para uma caminhada matinal.
Lembro bem que a intenção era boa, mas a ideia não. Percorri longo caminho e encontrei com o primeiro fantasma, dessas figuras lendárias que nunca dormem, e que, sem cerimônias indagou em bom inglês:
_ What´s up, man. black or white?
No mínimo meu cigarro de palha era novamente confundido com maconha, ou talvez a os dreads que antes me embelezavam eram os verdadeiros culpados.
Como minha resposta foi em português embaralhado ele logo percebeu que eu não era gringo. Falei que era mineiro, de BH e ele sem pestanejar:
_ Mineiro? Conheço Milton Nascimento. Gosto muito!
E cantarolou Coração de Estudante, antes que eu pudesse falar que Milton era, na verdade, carioca.
Desvio do assunto, do sujeito e da música. O plano é outro e continuo andando. Mas o Rio é o Rio e as surpresas me esperam. Logo ali em um quiosque, Mulatas, Polacas, Joanas, Beatrizes e talvez alguma Geni, não sei. Ouço meu nome! Interrompo imediatamente os passos e fico a pensar na morte da bezerra, ou, como assim ela sabe meu nome? Uma das moçoilas intervém de copo na mão e pouca roupa:
_ Tá perdido Mineiro?
_ Talvez sim, talvez não – digo evasivo, ganhando tempo. Mas a verdade é que a memória me traía. Quando? Onde? Por quê?
Não recuso o copo e ela me lembra de um porre noites atrás. Nenhum trabalho realizado a meu pedido, descubro aliviado, mas sim a encontrei com um grupo de gringos italianos. Foi onde aprendi que prostituta no Rio fala no mínimo 3 línguas, ou fica fora do mercado. Os gringos se foram e elas ficaram, pois o dia estava fraco e a sede era grande, segundo me disseram.
De consciência limpa e com a honra intacta me transbordo de histórias daquelas sofridas (ou não) mulheres e quando me dou conta já é manhã e Chico não deve ter me esperado.
Aborto a missão, mesmo por que as pernas desobedecem, e o corpo teima em padecer. Saio assobiando Samba e Amor, distraído como sempre, enquanto procuro o caminho de volta para minha BH.
No próximo capítulo descubro que, para ser Chico Buarque tenho antes uma grande fila para enfrentar...