quinta-feira, dezembro 04, 2008

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 4


Quinta, 06h45min


Pois é. Foi ainda no horário em que costumo passar com as deusas que colorem meus sonhos, que encontrei em bela manhã o colega Bicho-do-Mato. E uma atraente garrafa que se aproximava do fim.


_ Ô rapaz. Você na minha esquina?, escornadão. Malzão. O que acontece?, terminou com a namorada?

_ Vão comemorar. Vão beber, vão chapar!

_ Bicho-do-Mato, você está bêbado.

_ Como adivinhou? Um brinde ao adivinhão! – ele grita.

_ Comemorar o quê? Resolveu casar? Pensei que você morreria solteiro e sozinho.

_ Vão comemorar o sucesso, meu amigo. Vão brindar a glória, a fama!

_ Bicho-do-Mato, não sei o que você anda usando. Mas estas drogas de hoje em dia são muito pesadas. Cuidado.

_ Tô usando nada, não. Tô comemorando porque você tá ficando famoso com estas filosofias abiloladas...

_ É?

_ Consegui marcar uma entrevista para você conceder hoje à tarde, ao AQUI. Daqui a pouco tá famoso. Quem sabe paga aquela grana que me deve.

_ No AQUI?

_ Não reclama. Pra começar está bom. Tim-Tim!


14h23min


_ Um amigo meu diz que vocês jornalistas são todos uns canalhas, no que concordo. Mas você é um canalha atrasado. 23 minutos atrasado – digo, pra descontrair.

_ Vamos começar logo. Daqui a pouco tenho que apurar um caso de uma mulher com três pescoços, lá no Venda Nova.

_ Eletrizante. De onde tiraram a idéia de me entrevistar? Eu não tenho três pescoços, pelas minhas contas.

_ Estamos começando uma série de reportagens sobre pessoas perturbadas e esquisitas. Ontem, por coincidência, estava tomando uma com o Bicho-do-Mato. Ele disse que precisávamos te conhecer!

_ Ah, entendo.

_ Podemos...? Vamos logo. Como você se define?

_ Sou um Sujeito assim, digamos, indeterminado.

_ Okay...

_ Espera. Posso mudar minha resposta?

_ Sem problemas.

_ Sou assim, como um caminhão sem freio.

_ Okay, próxima. Você acredita que esta tal filosofia de boteco pode melhorar a vida das pessoas?

_ Acho improvável. Espera. Posso mudar minha resposta?

_ Sem problemas.

_ Acho impossível, anote aí.

_ Sim, sim. Confesso que esperava respostas polêmicas. Loucas. Malucas. Não sei. Pelo que o Bicho do Mato havia contado, pensei que fosse um completo desequilibrado.

_ Nunca cometi crimes passionais.

_ Tudo bem. Vamo lá. Em que se inspira para criar suas teses?

_ Tomo uma tinguaça, aí baixa o santo!

Agora ele se empolga, tendo em vista alguma aparente perturbação em minha alma.

_ Sério? Você incorpora o santo?

_ Não, mas é o que você quer escutar, não é?

_ De certa forma.

_ Por isso as pessoas mentem.

_ Como assim?

_ Mentimos por 3 razões básicas: 1) Porque sabemos as mentiras que os outros querem (e/ou precisam) escutar.

_ Continue.

_ Pois bem, 2) mentimos ainda para escaparmos de encrencas e 3) para culparmos alguém por conta de alguma encrenca.

_ Legal. Às vezes, em uma mentira englobo todas essas razões! Mas só minto profissionalmente.

_ O único problema da mentira é que ela não é verdade, não acha?

_ Acho que se esqueceu de uma razão básica que todos temos para mentir!

_ Nunca esqueço nada – eu digo, mentindo sem qualquer razão.

_ A única forma de justificar uma mentira é contando outra: razão básica de muitas mentiras!

Agora o danado me pegou. Mas escapo.

_ Considero essa apenas uma razão secundária. Não, básica. É isso.


Nossa conversa avança; torna-se razoavelmente interessante. O repórter, parece-me, começa a entender que o bizarro está no lugar-comum e que muitas coisas esquisitas são tidas como normais. Empolgo-me. Quem sabe uma matéria de capa! Até que ele diz:

_ Uma última pergunta, para fechar. Pode a filosofia de boteco ajudar na solução de crimes em bares, nunca resolvidos?

_ Que sandice! Some daqui. Vaza! Canalha vagabundo.

_ E você, vá procurar um emprego de verdade. Sujeito maluco!

E com um tombo, com uma queda dolorida, encerro minha escalada para a fama.


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Texto: Alexander Reis

Ilustração: Pablo Leandro

10 comentários:

Anônimo disse...

engraçado,...
conheço vários amigos seu, porém nunca ouvi falar nesse tal de bicho do mato.

rsrs....

Anônimo disse...

Soube que se o Banjo vencer a maratona vai pagar uma cerveja por comentário. Achei ótima a idéia.

Conselho de Jorge Ben:"Bicho-do-Mato!, devagar pra não cair(...)".

Anônimo disse...

Ei Lex. Como prometi li todos os seus textos de uma só vez! O q foi mto fácil, pq realmente gostei pra caramba! Acho apenas que deveriam divulgar mais o blog, além de divertido, eh um trabalho inteligente e curioso. Poderiam colocar os links dos outros textos da serie pra facilitar tb. É isso! bjin.

Anônimo disse...

Lequê, a idéia do Tiago é boa, mas não posso trocar meu anonimato de meses por uma cerveja... O texto de vcs se completam, formam uma boa dupla.

TIAGO SÂNZIO disse...

uai! se eu ganhar pode ter certeza que tem cerva pra nóis né! Mas acho difícil! rs

Luciene, para ler os outros textos dessa série basta clicar no marcador logo abaixo de cada post, neste caso, Alexander!

ABraços!

Menina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Primeiro que Pablo, eu conheço o Bicho do Mato, ele é bonzinho, depois te apresento...rs rs
E esse tal sujo...tá cada dia mais se parecendo com seu criador "mal lavado", viu Alex? rs rs
Quanto a tal "fama", a gente um dia chega lá. Ou não!
Beijos o cabeção, aqui é certeza de coisa boa, sempre!

Anônimo disse...

Tati, tati! Pára, que somos sujeitos COMPLETAMENTE diferentes. É como misturar alho com bugalho (tudo bem que ninguém sabe exatamente o que é um bugalho...). E se o Pablo não sabe do Bicho-do-Mato, é porque o auto-conhecimento é algo que vem com a idade!

Anônimo disse...

Para o Leke que não sabe do "bugalho":

Chama-se bugalho a uma excrescência de forma arredondada que se forma em algumas espécies de ávores do género Quercus (carvalhos, sobreiros e azinheiras) na sequência do depósito, num dos seus ramos, de um ovo de vespa. A vespa desenvolve-se e alimenta-se no interior do bugalho, onde passará por todas as fases das suas metamorfoses: larva, ninfa e insecto adulto.

Em Portugal era frequente que as crianças utilizassem bugalhos como berlindes.

Zêro Blue disse...

Atraído pelo seu comentário no Gambetas dei uma passada por aqui.


E que diálogo héin? Digno de um ambiente de boteco mesmo...


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Saudações Celestes

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