quinta-feira, março 05, 2009

O Universo Fantástico da Filosofia de Boteco


Número 9


Terça, 01h59 min.


“Discurso!, discurso!, discurso!”

_ Não, não. Façam isso não, que eu tenho vergonha.


“Discurso!, discurso!, discurso!”

_ Hoje nem é meu aniversário. Eu só falei que era, para que ninguém faltasse.


“Vacilão!...”


Os gritos ensandecidos dos amigos me animaram até. Lembrei-me que sempre quis fazer um discurso, um dia. O bom orador: tem que ser ágil, qualquer fala que extrapole um minuto e meio é desnecessária. Esse é o tempo máximo que conseguimos nos concentrar no que o orador diz, antes de viajarmos no universo fantástico dos pensamentos depravados e libidinosos – bem mais interessantes que discursos em geral, diga-se.


“Discurso!, discurso!, discurso!”


_ Amigos, para início de conversa, certa vez procurei os Alcoólicos Anônimos pensando que encontraria uma turma mais agradável, no que peço desculpa. Vocês são os melhores amigos do mundo!

Aplausos efusivos.

_ Acreditem: para muitos, beber é um grande problema, uma doença grave que não permite piadas, pois é algo realmente triste. Sei que vocês não conseguem imaginar como ficar sóbrio pode ser bom e prazeroso; eu também não. Afinal, o mundo é realmente muito triste...

Luizinho grita: “se estou são, não estou salvo!”. Os esquisitões riem. Os caretinhas não entendem bem.

_ A terra está em transe, meus amigos, nós todos estamos. Acho que só entenderemos nossos maiores erros quando estivermos velhos e lesados, não é mesmo?

“É”, todos concordam, em coro, de um modo meio cantado, inclusive.


Um curioso – sapo, bico, entrão –, enfim, alguém, não sei quem, canta para nossa mesa: “Beber, cair e levantar!”. Uma coisa absurda.

_ Bicudo, respeito e até admiro seu estado de embriaguês! Não digo o mesmo das suas referências culturais. Essa música é horrível. Mas, em compensação, a letra é péssima. Se você caiu e ainda assim se levantou, é tolice beber mais. O melhor é tomar um Sonrisal ou um Engov, remédios que, sem dúvida, mudaram a história da humanidade... Além do que, já é tradição, desde a invenção do achocolatado: quem não aguenta deve beber apenas Toddynho.


O velho Bicho-do-mato, grande camarada, em apoio, grita com selvageria e empáfia: “Muito bem. Sapo de fora não ronca, não!”

_ Continuemos, então. Vocês sabem das pingas que tomo, mas não sabem dos tombos que levo...

“Opa, espere aí. Sabemos, sim. Já vimos você tomar muitos tombos, contando os literais e também os não literais”, diz o Banjo do Pandeiro, com absoluta sinceridade.

_ Banjo, você é o único amigo do mundo com dois instrumentos musicais no nome e por isso tem o meu respeito. A verdade é que eu vi essa frase na traseira de um caminhão antes de ontem pela manhã e não me contive em citá-la. Os discursos ficam ótimos com citações!

“Uhhh!” – logo em meu 1º discurso sou vaiado. Estranhamente, os colegas parecem não gostar tanto de citações.

_ Acalmem-se, acalmem-se. Vocês são uns malas, pela 1ª vez sinto saudades dos colegas do AA.

“Uhhh!” – logo em meu 1º discurso sou vaiado duas vezes.


_ Amigos, durante o dia nos portamos como camaleões. Para passarmos despercebidos, nos misturamos à paisagem, porque não somos bobos e queremos evitar problemas, certo?

“Ceeeeerto!”.

_ Portanto, aproveitando que vocês estão bêbados e bem mais humanos (e nem tão camaleônicos!), proponho que lembremos...

Todos me olham de forma simpática, agora. O pessoal adora um discurso propositivo.

_ Lembremos aqueles tempos em que o futuro era só esperança e sonho, não dava dor de barriga, nem aflição, quem se lembra?

“Eu lembro”. “Eu também”. “Se lembro!”.

Com exceção do Bicho-do-mato, que teve uma infância difícil, e do Luizinho, que garantiu ter fumado as recordações da época, todos lembravam.

_ É, amigos, só vocês me entendem!, oh, quanta alegria! Pena que aqueles dias jamais voltarão. O futuro é muito assustador. Brindemos ao passado!, ele parece melhor a cada dia. Acho que até melhor do que foi realmente.


Aplausos efusivos dos amigos sem lembrança. Silêncio dos demais.


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Texto: Alexander Reis

Ilustração: Pablo Leandro

12 comentários:

TIAGO SÂNZIO disse...

doido demais Leké! Nesse vc teve razão!! hehe

Unknown disse...

sssssssssshhhhhh!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

O,o Meu
(´;´) cartunista
C(“)(“)mais lindo do mundo,
Você brilhando de novo, heim?!!
Ficou ótimo!!! Parabéns!
Mil Beijinhos

Leque,
Amei! Ficou muito bom...

Meninos,
Sucesso sempre!!!

fica na paz!!!

Banjo: Seu blog é muito bom...

Anônimo disse...

eu também tenho medo do futuro, do escuro, do homem do saco que pega as criancinhas, Dilma presidente, ter um filho corinthiano e que o cruzeiro perca a invencibilidade pro galo, aff!!!

realmente o futuro é assustador!!!


véi mui boa!!!

Anônimo disse...

como assim, Pablo???? qual o problema de ter um filho corinthiano????!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

HA mininos, otimo texto, otima ilustração!

sentir que estamos velhos é ruim demais...
bjin!

Anônimo disse...

sacanagem... o luiz sempre fica com as melhores falas.

Anônimo disse...

Lex, que texto cínico! foi o que eu achei... ADORO!

Anônimo disse...

olha a manchete que acabei de ver: "Dilma pede discurso mais atraente". é o assunto, viu... rs

Anônimo disse...

Ah, mas a Dilma é leitora assídua do blog, não perde um texto. É por isso.

Anônimo disse...

Vou nem comentar do tal medo do futuro. Tô trincando aqui com essa tal de formatura...
Mas tá tudo bem, vamos que vamos. Coisa impressionante é como as coisas são sempre mais perfeitas depois que já passaram. As aflições de hoje serão também as ótimas lembranças de "tempo bom" de amanhã!
Nuh...eu faria um ótimo discurso! Só me faltariam um Bicho do Mato, um Luizinho, um multi-instrumentista (dentro da nova regra gramatical OU NÃO) e um Biluzinho! bauhahuahuauahua

Saudade de vcs, meninos inteligentes!
Parabéns por mais uma delícia de texto e ilustração!
Bj bj

Anônimo disse...

Ah, não! Biluzinho, não. Pô, assim quebra minhas pernas, Tati! Faz uma coisa dessas não.