
Vem chegando a idade e começamos, no geral, a nos preocupar mais com as coisas da vida. Por exemplo, antes mesmo de pensar em vender um dos rins para pagar as contas, passei a ler muito Foucault, nem sei bem por que, e descobri que ele nasceu em 1926 e morreu no dia 25 de junho de 1984, um ano depois do meu nascimento. Vai vendo.
Querem mais coincidências? Começaremos do começo. Nasci no dia 26 de junho de 1983, no Hospital Maternidade Promater, às 06 horas da manhã, que fica na Rua Rio Pomba, quase esquina com a Rua Vila Rica. Até aqui tudo normal, se não fosse o fato desta rua ter se tornado tão importante para mim.
Neste pequeno trajeto existe nada mais nada menos do que o Cartola Bar, um dos lugares onde mais freqüento, além é claro do Chorinho do Bolão, na parte de cima. Quantas vezes subi por este caminho embriagado, entorpecido. Sozinho ou muito bem acompanhado. Ai ai...
São várias as lembranças. E o meu berço logo ali, ao lado. Teimo em dizer, que quando nasci um anjo muito torto, desses que vivem pelas madrugadas, a cantar, esquecendo o que passou, gritou em meu ouvido: Vai nego, cambaleante, sambando, ser gauche na vida.
Fui crescendo é claro, como toda criança, quase normal. Lembro-me bem que um dos momentos mais felizes da vida foi quando ganhei meu primeiro livro. Abri e falei com mãe, com grande inocência: Eu tenho que aprender a ler hoje, de qualquer jeito. Isso ela que conta e ri. O livro era Patati patatá, um clássico. Eu tinha 06 anos.
Aprendia a ler, não naquele dia, é claro, mas fui bem precoce. Nesta idade, a precocidade em nada incomoda, muito antes pelo contrário.
Depois deste acontecimento, muita coisa de importante aconteceu. Quem sabe eu relate um dia. É só vocês esperarem pela publicação da minha auto-biografia não-autorizada.
Até o presente momento, aqui estou, morando sozinho, trabalhando muito, pegando ônibus, descendo em frente ao Promater, virando à direita, subindo a rua, entrando no Cartola, pedindo uma Brahma, acendendo um paioso, ouvindo um samba, só na alegria, uma esperança vaga que eu já encontrei.
Acabo então esta crônica, meus caros, e me vejo aqui em frente ao computador, ouvindo o grande e pouco conhecido (infelizmente) sambista Batatinha, com a música Imitação, na voz de Gilberto Gil, que nasceu que dia? Que dia? Que dia?
Abraços a todos e obrigado pelos votos de felicidades, pelo orkut, telefone, mensagem, sinal de fumaça e pessoalmente. Fico muito feliz, de verdade!