terça-feira, março 24, 2009

O caso da cachaça de goiaba

Final!

Você pode ir também para Parte 1 ou Parte 2!

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E seu Tonho continuou sua interessante narração:


Diz a velha máxima popular que se o Coisa-ruim fumasse, seu cigarro favorito seria Continental sem filtro, ao contrário de Deus que fuma Capri ou Charme longo, só até a metade.


Mas o certo é que o estranho rapaz acendeu seu Continental, impregnando todo o recanto, que já estava pra lá de impregnado, diga-se de passagem. Sua fumaça me fez pairar fora da realidade, onde o nome Joelma ecoava em meus pensamentos.


Os mais afoitos já devem imaginar algo bizarro envolvendo o desastre do tão famoso edifício em São Paulo ou mesmo uma coisa pior, o nascimento da horrenda vocalista da banda Calypso.


Nem uma coisa nem outra, meus caros. Joelma na verdade se tratava de uma futura paixão. Coisa que só fui descobrir um pouco depois é claro. Voltando às divagações...


O cretino terminou seu ovo, tomou a garrafa de minha mão e a abriu rapidamente. Um forte odor de goiaba e álcool lutava contra o cheiro da fumaça dos cigarros e acabou preenchendo o olfato de todos os presentes.


De modo meio que surreal ele retirou um pequeno copo do bolso do paletó e serviu a si mesmo, tomou, pigarreou e serviu outro, agora para mim. Peguei o copo e sem pensar virei, matando tudo numa golada só.


Juro, por esses olhos que a terra há de comer. Raios e trovões descontrolados começaram a cair e uma ventania nunca antes vista abriu portas e janelas, derrubando vários objetos e principalmente, assustando todos os cabrões que faltaram mijar nas próprias calças.


Meu descontrole foi total, imaginando o fim dos tempos, obviamente. Neste momento, o tempo parou e vi tudo, passado, presente e futuro, aparecendo em meus olhos. Vi a morte de papai, a doença de mamãe, meu casamento, meus filhos, meu divórcio, o bar, até muitos de vocês eu vi.


E vi, principalmente, uma mulher de cabelos encaracolados, sorriso insinuante e ares inocentes, dançando para mim. Me provocando, extenuando minhas forças. Me amando de forma sagaz. Me largando no meio do furor da paixão. Me deixando a mercê do próprio sentimento. Me afogando em lágrimas.


Poxa, eu tinha apenas 13 anos quando tudo aconteceu. E é dela que sempre me lembro. Quando voltei ao normal, estavam todos em minha volta, sem entender nada de nada. Olhavam assustados, esperando alguma reação.


Perguntei se eles tinham visto tudo aquilo. Ninguém viu coisa alguma. Falaram que eu simplesmente fiquei imobilizado e não ouvia ninguém. Perguntei sobre o cara da cachaça e nem dele eles sabiam.


Quando já estava me convencendo que tinha sido tudo um sonho olhei para o vitral de salgados e vi que faltavam dois ovos coloridos. Olhei para o balcão de cachaças, este mesmo que até hoje está aqui, e vi a garrafa prateada, me espiando como se fosse o único predestinado ao brinde.


Meu pai foi um dos poucos que acreditou em mim. Tanto é que proibiu a todos de tirarem sarro ou mesmo de beberem tal iguaria. E lá está ela, do mesmo jeito por todos esses anos.


- Mas e a tal da Joelma? Ocê conheceu tal belezura?

- Pois então. As visões me emperraram neste sentido. Tudo que vi aconteceu, mesmo quando eu me esforçava para não acreditar. Durante todos estes anos conheci três Joelmas na minha vida e as afastei antes de qualquer coisa. Fugi como o diabo da cruz. Nunca dei chance.


- Mas como assim, homi de deus...

- Não sei. Não sei mesmoooo. E é por isso que aquela garrafa é intocável. Entendeu agora?


Ao fim da pergunta Sô Tonho vira-se e sai pra a cozinha. Os demais presentes, meio boquiabertos não sabem se acreditam ou não. Mas isso pouco importa para ele.


Neste momento a porta se abre. Uma assustada moça entra como se fugisse de uma chuva inexistente. O seu perfume entorpece os homens em demasia. Ela sorri. Diz que veio de muito longe e procura um tal de Antônio, dono do bar.


Abre a bolsa e tira um cigarro, Continental sem filtro. Acende. Traga com muito charme e paciência. Diz então seu nome... Dá pra adivinhar?


Seu nome era Maria, filha do Português da padaria. Tinha ido entregar um recado de seu pai.

Joelma seria demais né?


Abraços meus caros e até a próxima.

12 comentários:

Anônimo disse...

fim de mais uma novela! Parabéns, menino! Gostei muito!

bj

Anônimo disse...

foi demorar a escrever o povo eskeceu de ler! kkkk!

Unknown disse...

Tinha que ser Maria?? Não poderia ser Joaquina????? Pobres Marias...rsrsrs
To com aflição do ovo azul ate agora... blargh!!!!!
Boa comédia... bjss

Anônimo disse...

Flávia, acho que é Maria porque Maria rima com padaria.
Se fosse Joaquina teria que ser filha do português da esquina.

Tiago, gostei até!
Abr!

Anônimo disse...

Mui bacana...

Beijos!

Renata, as Magnólias e a Estriquinina. disse...

achei fantástico essa parte: Diz a velha máxima popular que se o Coisa-ruim fumasse, seu cigarro favorito seria Continental sem filtro, ao contrário de Deus que fuma Capri ou Charme longo, só até a metade.

muito bom, muito bom, mesmo!

TIAGO SÂNZIO disse...

Maria é Maria, Flávia... rs

valeu pela visita Renata! Seu blog tb é muito bom!

Unknown disse...

vou ler otras partes....blz...

http://verdadesentrementiras.blogspot.com/

Anônimo disse...

Bem como eu ando sumido, tenho que atualizar a leitura do Blog, mas achei essa crônica muito boa.
Obs: Agradeço desde já a propaganda em um dos textos, mas faltou colocar o meu tel de contato!!!!!!
E eu acho que Deus fumo cigarro de palha e utiliza um fumo de corda, de preferência arapiraca!!!!!

Anônimo disse...

Ah, eu lembro dos "cigarros Continental", mas pelo o que meu avô contava, não por ter vivido a época...hehehehe!

Mas sabe quem este conto me lembrou? José Cândido de Carvalho. Conhece? É muito bom!

Tá de parabéns pelo texto! abs!

Marton Olympio disse...

Muito bom.
Estou escrevdno um romance neste mesmo universo que acho fabuloso.

FUI!


http://martonolympio.blogspot.com/
:)

TIAGO SÂNZIO disse...

valeu pelos comentários!
Rafa: qual propaganda?